domingo, 2 de novembro de 2014

O ALEGRE BOÇAL



É por haver pedreirões como tu
Que os pedreiros têm fama
De labregos, alcoólicos e sem formação
Dizes-me que por não trabalhar
Me devia suicidar
Se eu tivesse o teu aspecto
A tua fronha, as tuas fuções
A tua personalidade de alimária
Há vinte anos que me tinha suicidado
Pensei que quando deixasses de beber
Houvesse algo em ti de positivo
Porque é que quando
Vês um outro bruto
Que te assentou bem
Nesse courão
Ficas irrequieto
E não sabes onde te meter?
Fica a saber que não é
Por estares me sempre a querer
Intimidar com a tua boçalidade
E por não te dar confiança
Não sou menos homem do que tu
No fundo tu é que deves ter
Um problema de identidade sexual
Porque através da brutalidade
Parece que sentes que precisas
De estar sempre a demonstrar que és macho
E confesso que quando estou perto de ti
Começo a sentir-me homofóbico
E no entanto tenho amigos gays
Com quem consigo ter
Uma conversa civilizada e inteligente
Eu estive quase dois meses na tropa
Não livrei por ser um bêbado porco
E na altura até era muito alcoólico
Na altura só livrava à tropa quem estava prestes
A ser ou era universitário
Ou os tristes sendeiros ou aqueles
Que ainda que pertencentes ao género racional
Erem bem mais empregues numa tourada
Do que o vitimado touro

2014


Rui Sousa

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