terça-feira, 16 de março de 2010

PORQUÊ MORRER TANTAS VEZES NUMA SÓ VIDA QUANDO A VIDA É UMA CAUSA PERDIDA?

INDÍCIOS OBSCENOS


Cabrão com ascendente alcoviteiro,
Tu és um filho da puta.
Aproveitas-te da maneira mais astuta
Os meus gestos de infeliz conselheiro.

Estás parado num sentido adverso,
Movimentas-te com os meus gestos
E achas os meus defeitos modestos.
Porém fazes sempre o inverso.

Eu podia jurar
Que já havia engolido o teu cérebro
Quando pertinho dela te aninhavas
E não parecias comandar.

Tu nasceste de um filme pornográfico.
Merecias antes derivar de um casal homossexual
Nem que fosse por um efeito trágico
De uma relação anal.

Se és um rival para o efeito perigoso,
Atenta na minha mania mais depressiva:
Sonharei contigo mais idoso
Auxiliado por uma tendência excessiva.

E aquela menina com dois lados desiguais
Neste buraco não me enfeitiçará mais.
Sempre tivemos relações anuais,
Mas com o tédio poderão vir outras tais.

Como é possível uma mulher
Manter tão triste ideia,
Como pode a beleza querer
Ser tão feia?



11-1995



Rui Sousa
Enquanto Laura salerosa me pedia que não fizesse
Uma lobotomia
Pelo prazer com que chiava
Enquanto nas partes mais íntimas a mordesse
Pelo modo que só eu (sei) sabia.

Não se importou de eu ser alcoólico.
Da minha vulberabilidade ao sol.
Da minha psicose esquizo paranóide.
Comparou-me ao bipolar Axl Rose (nos seus tempos de glória) o meu ídolo de adolescência.
E no fim queria levar-me com ela.

E traduzindo ela disse-me:
Os teus olhos são muito belos, mas muitos tristes.
Os teus lábios são mui sensuais,
E tu és mui sexy.
Que havia
Eu de fazer
Senão o que fiz acima?
Porque é que uma mulher espanhola que se entrega parece só uma mulher emancipada?
E porque é que uma portuguesa emancipada
Parece uma puta mal disfarçada?

Melhor paixões ocasionais
E puramente venais
E um estreito cono!
Melhor do que princesas prisionais
E escravos presos ao trono.



14-3-2010


Rui Alexandre Sousa

A NOIVA DO VAMPIRO

O pêndulo do relógio bate meia noite
E parece-me que assim nunca deixou de ser.
A última badalada faz-me ter pressa de te ver,
Mas não sei se no mundo outra vez me afoite.

Oh noites de glória,
Uma década de história,
Uma vida de lembrança,
De ouro usurpador a vitória
Que levaram o meu amor,a esperança
Que tudo o resto varreu da memória.

Eu sei que tu estás casada
Desde que deixei de viver.
Eu sei que tu estás casada,
Sussurrrando os meus sentimentos a arder…


Tu és a minha noiva eterna.
Vem viver comigo para o meu retiro,
Do mundo espaçosa caverna.
Dos meus sentimentos tens uma paixão externa e interna.
Assim está escrito no mais antigo egípcio papiro:
Devolvam a noiva do vampiro.




…2-2006




Rui Sousa

A VOZ DA SILENCIOSA TESTEMUNHA

Os anjos viram o que se passou hoje no mundo…
A minha vida tem de mudar.
Eu fecho os olhos, começo a rezar,
O meu sentimento é profundo,
Começo a chorar.
Com os braços abertos
Nenhuma dúvida é mortal.
Com os braços libertos
Da hipocrisia universal.
Com a voz da silenciosa testemunha
Eu digo-te tudo…eu digo:-Amo-te.
Com a voz da silenciosa testemunha
Aos céus a tua beleza impunha…
No inferno canto-te.
Se eu tivesse mais do que vejo
Só teria um desejo
Onde o mundo não me supunha.
Pedia-te um beijo
Com a voz da silenciosa testemunha.


Para A.S.L.




…2.2006




Rui Sousa


Inspirado em «Creed»

NA EMINÊNCIA DE IR PARA A TROPA

Portugal, grande Portugal de outora
Que entre monstros e abismos navegaste,
Que trevas profundas iluminaste
Ambicionando a luzente aurora.

Portugal, grande Portugal de outrora
Feitos geniais imortalizaste,
Não temendo do vil mundo o contraste
Geral, que se receia agora.

Hoje, para o exército pobres empurras.
Alguns ricos, vazios de espírito
Que como manada recebem urras.

Do superior o poder crítico:
-Sirvam o país…eis mulheres burras,
Eis diversão…recebam o político…




1997







Rui Sousa
NO TEMPO DO IMPÉRIO ROMANO
AS RAÇAS QUE ORIGINARIAM
A PORTUGUESA DIRIAM
TODOS OS CAMINHOS VÃO DAR A CONA…



A FRAQUEZA DO AMOR



Em nome do amor e da maçâ
Civilizações param pra não encolher,
Paredes móveis não param de crescer.
Fêmea imóvel pareces a cortesã

Da desordem, da lúxuria a pura irmã
Solidão, deixa-me mostrar o teu saber.
Noite calada, diz-me que só posso ser
Como outro Drácula, temendo a manhã…






25-8-1997








Rui Sousa

JOVEM MULHER

Aquela jovem mulher
Sendo tão anjelical
Está-me a matar.
E penso que ela quer
Para mim um destino fatal
Ou platónicamente a amando.

Eu não sei se ela lê
A minha poesia
Com os seus olhos divinais.
Eu não sei se ela vê
A minha agonia
E assim me faz sinais?!...

Mas ainda que pobre tenho orgulho
E de novo conheçi o inferno do ciúme.
Amante tem que nem se faz ditoso
De possuir a minha divinal paixão
Espetando sem saber no meu peito dextro gume.





13-3-2010





Rui Alexndre Sousa

SÓ PELO TEU LINDO SORRISO

Só por ver os teus brancos lindos dentes
Os teus sorrisos que nem são para mim…
Só por não desejar os teus carinhos sempre ausentes
Apresentei-me ao inferno pelo fim
Que queria um pouco retardado
Fiquei da minha alma abandonado.


SÓ PELO TEU LINDO SORRISO


De sangue envinhado,
De luz assustado,
De solidão mendigado,
De sorriso macabro,
Endividada alma ao Diabo.




11-3-2010







Alexandre Navarro

NUM FUTURO PRÓXIMO

Não consigo alcançar
Aquele refúgio seguro
Abandonado por marginais
E já não aguento mais.
Rejeito a sepultura que me quer sujeitar
Brasões pérfidos brilhando no escuro.
A morte faria sinais?...



O poste de electricidade vandalizado
Ilumina o asfalto esburacado,
Onde a chuva pinga melancoliacamente,
Criando um espelho mágico que, mansamente,
Envelhece o futuro, renova o passado
Que me persegue impiedosamente.
Condensando um refúgio feminil
Habitado por um velho senil.
Alcanço uma morte lenta e deformada
Por um presente tóxico,
Libertando deuses reclusos,
Crianças retocando desenhos obtusos
Num futuro próximo…




1996





Rui Sousa

OS LUSÍADAS (A DESCENDÊNCIA)

As cervejas e os beirões acumulados
Que da tradicional cirrose lusitana,
Por figados nunca de antes navegados
Passaram ainda além de trabuzana
Em rostos e copos quebrados
Mais do que prometia a estupidez humana,
E entre gente bêbada edificaram
Velho figado que tanto maltrataram.

E também as memórias desgostosas
Daqueles bêbados que foram dilatando
O estômago, os bolsos, as bebadeiras viciosas
Dos bares de Portugal que andaram devastando.
E aqueles que por bebadeiras valorosas
Se vão do fio da vida libertando,
Vomitando, espalharão por toda a parte,
Se a tanto lhes ajudar o dinheiro, e tal arte.

Reclinai por um pouco a brutalidade
Que nesse brusco gesto vos contemplo.
Que já se mostra qual na inteira criminalidade,
Quando bebendo ireis ao desejado templo
Onde mora a fatal necessidade,
A greta, seguireis o paternal exemplo
De bebadeiras e punhos poderosos
Em hospitais, clientes numerosos.






1997





Rui Sousa
A vela quando acesa não fica em vão
Deixou a beleza posta em seu carvão




Como que sugere a tinta
Para quem pinta
Como que sugere a fala
Para quem cala
Como que sugere a fome
Para quem come
Como que sugere a cama
Para quem ama
Para quem ama…

E se não me atinge como uma espada
Peço não me condene ó minha amada


Porque estas palavras foram pra ti amada
Porque estas palavras foram pra ti amada





O poema que eu sempre quis ser o autor, mas não sou, porque é o poema de uma telenovela brasileira «Renascer».





Rui Sousa
Não tentem entender,
Porque já nada tenho a dizer.

Fui submerso pela sociedade
E existo na obscuridade.

Quero ser só eu e a lua.
Vou pela última vez
Sair para a rua.
Mostra-te como não és!

Rugi, salivai,
Pontapeai, apunhalai
Que não soltarei um ai.

Parai o sofrimento do meu coração
E ponderai se alguém tem razão.





7-3-2008





Rui Sousa

NÃO SEREI MENDIGO DE AMOR

Digo que és bela com a imprudência
Com que bebo a tua venenosa indiferença.
Digo que a tua extremada inteligência
Me faz desaguar dos extremos com extrema doença.

Gosto do amor,
Porque ele é irracional.
Quero roubar uma carne flor
E amá-la longe do covil menstrual.

Acredito no apocalipse transcendental.
Deusas vão ser escravizadas,
Luas por mim não vão ser poupadas
Para o teu merecido eclipse vaginal.

Mas,
Até os bichos da terra
Não se conseguem conter
De formar acres…vidas…
E quando acabar a minha guerra
O meu cadáver vão comer,
Pobres suicidas.


É interessante que uma toalha
Que deixei de qualquer maneira
Em cima da janela do meu quarto
Que devia ser só isto,
Tenha ganho um estranho rosto desperto.



2-3-2008



Rui Sousa

PORQUE É QUE EU EXISTO?

Cheguei aos 32.
Entre drogas, loucuras
E uma década de obsessão
Por uma só mulher.
O que é que agora procuras?
Uma nova obsessão?
Tem vergonha de o ser e de o viver.

Pareciam ter nos olhos loucuras
Algumas mulheres
Com quem afinal sempre tive algum prazer
E que no corpo húmido pareciam arder.
Sempre quiseste para elas os maiores prazeres.
Aos 32 anos Bocage foi preso.
Pelo mesmo que eu persisto
Na mente a razão que se acostume,
Porque no coração insisto
Arder com azedume
Que me atormenta.
O mesmo inferno do ciúme.
Porque é que eu existo?
Chegarei aos quarenta?





9-3-2010



Rui Alexandre Sousa


Cheguei aos 32
Ainda és tão novo, dizem os quarentões

AFRODISIACO

Sozinho? Com a mente e o coração…
Um pincel de contradições…
Zangada aceitarás na escuridão
As mais vivas cores das emoções?...
Nunca aceites a imposição
Atenuada de fáceis ilusões.

Crê naquilo que sentes,
Respirando de outros amores doentes.
Impõe-se ardor na paixão…
Sou aquilo que tu não sentes.
Tenho no peito um escondido clarão…
Insinua-te claramente e seremos diferentes
Num mundo de hipócritas mortais.
Aves voando longe da terra com asas iguais…




21-1-2007






Rui Sousa

MULHER PRÁTICA

Os olhos dela
Mentem mais que as minhas palavras.
Quando olhei para ela
Vi as minhas vontades tornarem-se escravas.

Quando te casaste
Percebi que o teu cono era um mealheiro.
Não morri quando me deixaste…
Só condeno o romantismo do dinheiro.







1-8-2006








Rui Sousa

O MISERÁVEL

Sou um homem.(Um ser miserável)
Gosto de uma mulher que se ausenta
E nos meus sonhos se apresenta,
Com uma cândidez inalterável.

Sinto-me tão doente…
Uma fraqueza insolente.
Tomo medicação de forma ausente…
No entanto morreria contente,
Se perto de ti me mantivesses presente.

Adoro o teu génio tolerante,
A tua sóbria simpatia,
O teu olhar que emana magia
Constante no mundo inconstante.

Amo o que os outros não amam.
O vento sinistro, a chuva fria,
Entre luzes sombrias, a minha poesia.
Mas amo-te a ti, e todos te amam…






20,21-12-2006





Rui Sousa



O meu amor é sincero.
Estou preso num seco rio
E não sei o que espero.
Tenho calor e frio.
Frenético aos extremos…doentio…
E por dentro desespero.

E se o meu amor trocasse
Pela primeira fácil montada
Que assim se franqueasse
E de todos os ângulos a penetrasse
E finalmente domada
Novamente a flanqueasse
E brutalmente conquistada,
Assim ela me amasse
Como te sentirias
Minha amada?...






21-2-2008






Rui Sousa

PRINCESA SEXUAL

Ela é a princesa
Das princesas de Portugal.
Amantes desmaiam de fraqueza
No seu apetite sexual.

Quando ela está molhada
Agrada-lhe ser submissa.
Na igreja desnudada.
Sexo nos arredores da missa
De um amante seu
Que por ser mais um faleceu.

Agora que ela está enjoada
Pensa em se casar
De véu e grinalda.
Princesa virginal no altar
Sonhando em ser raptada
Por um amante obssessivo,
Com um gesto lascivo
Pelo cura é amada.
Mesmo com uma dilatação vaginal
Serás sempre princesa sexual.




19-11-2008





Rui Sousa

ORQUÍDEA, MARGARIDA E ROSA

Com mais graça que as demais
Serenamente te levantais
Despertada pelos meus ais?...

Sinto-me envenenado
No púlpito do coração.
De modas desenraizado,
A tradição sempre foi corrupção.

Do coração teologias
Escurecem os meus amores.
Por cândidas musas te movias
E te entristecem agora as mais belas cores.

Aquela orquidea, margarida e rosa
Escondia-se de descarados olhares.
Cândidez dos meus pesares,
Mais formosa que a flor mais vistosa.



13-1-2008






Rui Sousa

O SOL BRILHAVA

O sol brilhava nas densas florestas,
As nuvens brancas reflectiam no rio,
Onde as crianças brincavam sem desafio,
O vento brandia as flores irriquietas.

Súbito as cores ficam obsoletas,
As nuvens carregam com sangue frio.
No imponente cemitério sombrio
Reanimam-se as mais pérfidas bestas.

O canário pia agouro desconhecido…
Nasceu a ingrata a bela das vagabundas
Que eu amei, solto o derradeiro gemido:

-Ah…se eu pudesse nas noites profundas
Gozar-te de coração esquecido,
Humilhar-te com as minhas mãos imundas.




1996




Rui Sousa

A PRINCESA E O MONSTRO (Agreste mimosa)

Ela era uma princesa,
Rainha sociável
Amada pelos anjos, amém.
Ele era um monstro, culpando a beleza
A sociedade intragável
E escrevendo cartas, palavras de sémen.

Ela era mimosa
E ele era um cacto
Cheio de alcoól.
Ela era inteligente e esplendorosa
E ele era um mentecapto
Atrofiado pelo sol.

Ela dançava na cidade
E ele fugia da claridade.
Na cidade tudo começa
E não há nada que impeça
Que se possa acabar num deserto.
Ele estava por perto
E ela corou
Mais bela cor
Que uma tentadora rosa
E o mundo rebentou
Soltando a dor
Da agreste mimosa.



6-3-2010


Abel Agreste

quarta-feira, 3 de março de 2010

AVÓ CESALTINA

Não havia nada que ela não visse.
Nada que ela não sentisse.
E na fraqueza da velhice
Era ela a mais forte
Mantendo a estabilidade.
Por vezes refugiamo-nos na imortalidade,
Com receio de enfrentar a saudade.
Dorme agora serena,
Nesta Pampilhosa que acordou mais pequena.



Os seus netos:


Miguel Almeida
Rui Sousa
Sónia Almeida
Nuno Sousa
Pedro Almeida
Nuno Almeida



Rui Alexandre Sousa






















Não vou abrir a porta nunca mais.
(Como se eu a conseguisse encontrar)








10-1-2009

INADAPTADO

No mundo, onde tento passar discreto,
Vejo as pessoas a aproximarem-se,
Multidões a distanciarem-se
Por algo de inconcreto…

No mundo, onde a tua vida
Me envolve na morte
Sou muito novo para ter partido o coração
Em pedaços…colando a ferida
Que te devolve o corte
Naquele que é velho demais para temer o papão.

Insatisfeito e solitário procuro o lugar
Onde sei que não me vais encontrar,
Onde sei a entrada e desconheço a saída.
Sei que és bela e não estás adormecida,
Porque as trevas se reflectem no teu olhar.





22-12-2004







Rui Sousa

ALCOÓLICO AIROSO

Ele é um aborto diabólico.
No amor contrasta masoquista.
Remeloso na vista
E constantemente alcoólico.

Quando o corpo cpmeça a ceder
Isola-se e esconde-se do sol.
No escuro contorce-se a sofrer
Faltando-lhe o companheiro álcool.

Meia garrafa de whisky sozinho
Em casa acabou de beber.
A inibição aos poucos vai desaparecer…
Sai para a rua e perde-se no caminho…

Todos os cafés vai correr…
Com todos os grupos vai falar…
Embalado de decadência continua a beber,
E no café mais elegante vai vomitar…

Fica mal falado e tresanda mal cheiroso.
Todas as mulheres quer amar
Que no fundo acabam por lhe perdoar
Por serem fonte do ciclo vicioso.

Expulso do café vomitado
Parece um mendigo piolhoso.
Cai por fim desmaiado
E acorda de noite airoso.


25-5-2007



Rui Alexandre Sousa

PREFERIA NÃO SABER

Os humanos esqueceram-me,
E as trevas acolheram-me
Com todo o seu sombrio poder…
Vi nocturnas legiões revoltadas,
Que me pareciam amordaçadas e babadas.
Vi nos seus olhos algo do meu ser.
E eu preferia não saber,
Preferia não saber…





2004






Rui Sousa

UM SORRISO

Entre a podridão nocturna
Sem um canto, um abrigo.
Salvo por um sorriso amigo
Vindo dos confins de Saturno.

Eu costumava ser um rapaz
Sem ajuda nas minhas escolhas.
O que eu escolho é a poesia capaz
De prender numa só flor todas as folhas.

Não há mais nada que eu possa fazer.
Ela deixou-me ir embora.
E a minha estupidez ignora
Que longe dela ainda mais vou arder.

Todas as ilusões
Me apodrecem a mente.
Tantas paixões
Que chegam de repente.
Quantos corações
Não quero pecaminar na minha serpente?...






27-1-2009





Rui Alexandre Sousa

O INFERNO DO CIÚME

I

Esse abismo, esse Orco eterno
Não é filho da razão;
Os pavores da ilusão
É que pariram o inferno:
Pelo siso me governo,
Que louco e falso a presume;
Mas, se não creio esse lume,
Nem esse invento maldito
Por experiência acredito
O inferno do ciúme.

II

Em vão pregador rançoso
Lá do púlpito vozeia,
Quando a triste imagem feia
Traça do inferno horroroso:
É sistema fabuloso,
Que à razão embota o gume;
Não, não há tartáreo lume,
Que devore a humanidade:
Sabeis vós o que é verdade?
O inferno do ciúme.




Para mim um dos melhores poemas de Bocage.
Sendo para mim Bocage um dos melhores do mundo.

Julgo por ter lido que até Antero de Quental nalguns sonetos se inspirou em sonetos Bocagianos.

SONETO

Na barca velha do rio Flagetonte,
Seguindo o caminho do caos sem fundo,
O acto não contido, meu sonho profundo
Consistia em Valquírias, vejo Caronte.

Coluna arqueada em decrépita fronte
Cansada de remar o sombrio mundo.
E assim calado nos remos fecundo
Condecorou-me o trágico horizonte

Que não começou, mas vi terminar,
Quando ouço um grunhido rouco e mordaz,
Dificultando as Parcas de ajuizar.

Amedrontado, volto para trás…
Caronte partiu para logo voltar,
Porque vou pedir tua alma a Satanás.





1996





Rui Sousa

VAGAMENTE

Afrodite morena de certeza
Em dois seres me reparte.
Um Aquiles de lúgubre natureza
Dissuadido por Nestor na sua arte.

Um fantasma me divago
Nas trevas, chuva fria que me não dissuade.
Um olhar nunca vago
Está a arder na minha privacidade.

Não consegui fazer o pedido
Que o meu corpo estava a pedir.
E não conseguiste partir
Do meu coração partido.





16-6-2008









Rui Alexandre Sousa

NO COMBOIO NOCTURNO

No comboio nocturno,
Vi os teus movimentos sensuais
Como o primeiro clarão diurno…
Beijamos ardores iguais,
Ignorando olhares mortais.

A tua pele branca e nua,
Deixando-se ser descoberta
Pelo primeiro homem na lua.
Primeiro vi-te incerta.
( Segredos que só Venus insinua)
Depois senti-te concreta.

Viste-me obscuro e deste-me
O teu olhar diurno.
Prende-me com o teu longo cabelo
E com os teus olhos despe-me
De mim e do mundo no comboio nocturno.





14-2-2007







Rui Sousa
Que memórias
Ou premonições de sonhos
Se levam para a morte
E depois da fatal sorte
Se cumprem medonhos?





27-2-2010







Rui Alexandre Sousa

SENTE

É triste saber que uma garrafa
De Whisky Jack Daniels tem de chegar pra três saídas.

Sente
Que é indiferente saber que todos os heróis
De Jesus Cristo nasceram perdedores.

Sente
Que é triste olhar para o papel
E não haver nada de diferente para escrever ou ler.

Sente
Que o filho da puta do velhote
Está sempre a ensinar-te coisas novas.

E sente que é mais triste não ter a merda do dinheiro
Para comprar uma garrafa de Jack Daniels.






9-2-2010








Alexandre Navarro
Não vou abrir a porta nunca mais.
Apesar
Ou pesar de estar uma carnívora rosa
Lasciva e voluptuosa
A empurrar…



Nunca mais irei a uma festa,
Porque na porta numa fresta
Está a nascer uma flor
Agreste linda e desconhecida
Que me pede para a amar.
E apesar de agreste é para mim mimosa
E impede a carnívora rosa
De entrar.




14-2-2010







Rui Sousa