quinta-feira, 18 de junho de 2009

Não gosto de ter esquizofrenia
Não consigo interiorizar filosofia.
Não creio no âmago da teologia.
E de mim, por vezes foge a poesia.

A minha poesia tornou-se sincera
E eu tornei-me um falso poeta.
A minha mente é habitação de Megera
E o meu coração envenenado cometa…

A ti, musa diferente
Que dás verso à poesia.
Que caminhas sempre em frente
Apoiada na filosofia
Desconheces a minha vã teologia
Que já ignoro como brutal heresia.

Que diferença faz dizer
Que foi Abel quem matou Caim?
Se nos extremos está Lúcifer
E nos extremamos assim?

Que estranha confidência
Te poderia desvendar,
Se te estou a venerar
Por mandares na coincidência!

22-2-2008

"Na psiquiatria interna entre Março e Abril de 2008"

(Saraus de psiquiatria interna)

Na psiquiatria interna por ser esquizofrénico, alcoólico e abusar da medicação estive internado quase um mês. Estive a soro e passei dois dias sem dormir. E tudo o que eu ingeria vomitava ao ponto de os meus olhos quase se tocarem um no outro. Afinal sobrevivi, porque me deram a antiga medicação em doses menores. Conheci um paciente que me disse: - Ia no meu carro a 390 km hora, meti o nitro e arrebentou-me a cabeça. Deram-me no peito e na cabeça 100 tiros de caçadeira de caçar elefantes, e agora vou fumar um cigarro para dar o sentimento, entendes?... E tinha conversas transcendentais com um esquizofrénico que disse: - Primeiro dou um murro ao polícia e abro-lhe a cabeça. Depois só com os dois dedos esmigalho-lhe o cérebro de modo a ficar mole para dar de comer à minha cadela que já é velha e tem os dentes moles e podem-se partir. Depois chegou outro esquizofrénico que era agressivo e dominava uma arte marcial e tinha mandado um caldo de heroína para fora. No primeiro dia chorou, mas nos dias seguintes já intimidava psiquiatras, enfermeiros e pacientes. Fiz amizades com tipos que estavam com esgotamentos nervosos, depressões, tentativas de suicídio. E nos dois primeiros dias um obsessivo compulsivo disse: - Ai, este rapaz, que morte horrível. E dizia isto chorando…


14-10-2008

Animal racional

A lua cheia enrouquece-te
Lobo vazio
Só com cio
De matar
A tua mulher
Que está a acasalar
Com um racional
Militar
Para te manter
Animal

O teu corpo apodrece
Digerindo 50 graus de álcool
Chamas nomes ao sol
Que o teu corpo estremece

Na velha gruta
Jogas na disputa
Ainda dás luta
Pela tua puta

És racional
Com o coração
És animal
Com toda a razão



Na tua morte
Sabes que vais deixar ossos e pó
Comida e carne envenenada
Abandonada à sorte vai ser devorada sem dó
Pela prole degenerada

Revolto
Velho cão
Solto do umbilical
Cordão
Afinal

7-6-2007

Afectuosamente

Não tive arte suficiente para criar o livro em branco.
Acabo de cair de onde acabo de sair…
Ninguém ama como eu.
Pobre cavaleiro lutando por uma princesa imaginária.
E talvez doces olhos me olhando,
Amados no mundo que vou ignorando.
Dom Quixote do terceiro milénio.
Pobre vampiro estacado
Por uma mulher inteligente, independente, atraente e doce?
Qual é no mundo a tua posse,
Anjo caindo emborrachado?
Que dama querias tu que ela fosse?
Inês de Castro morrendo por amor?
Joana D´ arc amando o seu senhor?
Só as artes de confusos sentimentos
Podem explicar escondidos sentimentos.
Só tenho fome, só tenho dor
E amor é ainda menos indolor
De mil xadrezes pensamentos.
Sei que nada sei, e como o sei?
No entanto sou?
Um esfomeado tubarão que o mar devorou…
Talvez um afável golfinho que deu à costa
E entre humanos se criou
De poesia e de bosta
De que se alimentou,
E por um túnel se evaporou.
13-3-2007
Caminho na noite chuvosa
E só me presencia a lua cheia.
Onde estará mulher tão formosa
Sem um segundo me reter na ideia?

O seu singular penteado
Negro cabelo
Faz do luar prateado
Um olhar triste, mendigado
Por ser tão belo não poder sê-lo.
O seu olhar é por vezes singelo
Quando não descaradamente desejado.
Misterioso céu estrelado,
Ah! Quem me dera descrevê-lo…
Momento que por vê-lo
O sol ficaria eclipsado.

Displicente por agreste caminho
Me persegue a lua
Como a tua pele nua.
E tão alta e tão baixinho
Não te posso dar carinho.

Sinto que és moderna e prática,
Assim a tua imagem evidencia.
Por isso, perdoa-me se for apática
Não sei se nova ou velha poesia.



Presente em mim a tua formosura
Agarraste mutável textura.
Um olhar de misteriosa doçura,
Lábios como a seda mais pura
Aveludam a minha amargura.

Perdoa-me a ousadia,
Mas nesta noite chuvosa
A tua imagem luminosa,
É contraste… pura poesia.

18-3-2008

Rui Sousa

"ANGÚSTIA?"

O amor sem fim
Que tenho em mim
No rio Estige se forjou.
No mesmo instante o rio secou.
Sufocada revolta, um frenesim
Dá em mim o que não dou.

Se eu tenho falsas fés,
Se abomino o mundo como ele é,
Se em nenhuma religião te vês,
Terás medo de morrer sem fé?

Se continuo a ser
Nenhuma espécie de gente.
Se morri sem ninguém perceber
Serei um sobrevivente?
………………….
Na tua intuição
Os meus olhos nos teus olhos
Não te atingem o coração
E despem-te os folhos.

Sinto por ti paixão
Que já não posso negar.
Vejo-te como uma visão
No meu deserto e uma sereia no mar.

Faz de mim o que desconheço
10-12-2007

Sofia

Sofia,
Há um demónio atrás da tua porta…
E tem um corpo viscoso e imundo.
E uma cara medonha e torta
E é corrompido como o mundo.

Há um demónio no teu chão,
E ele ergue-se como um espantalho.
E diz num cortante ralho
Que é do teu coração.

E ele bebe, vomita e fede
Da humana teologia.
E ele é roto, meio nu e pede
Que o cubras de filosofia.

E ele é alto
E de juízo falto.
E é sujo
E diz num rujo
Que escreve poesia
E quer para sua noiva a Sofia

31-1-2009
Rui Alexandre Sousa