terça-feira, 5 de janeiro de 2010

UUUUUuuuuuuuuuuuuuuuuu
No silêncio da noite
Questionado como um açoite:
O que dizes?Quem és tu?...

«Eu sou aquela estrada
Que nas trevas procuravas.
E como muitas palavras
Por vezes não dizem nada»…








Rui Alexandre Sousa

SONETO

Nasce a manhã fria frisada ao vento.
A floresta negra encobre outro dia.
Noite feia perdes melancolia.
Árvores gotejam consentimento.

Triste natureza humano momento.
Como formigas, combatem na via,
E enquanto aqueço morna poesia,
Não arrefeço saudoso tormento.

Chuva densa a meus olhos não tão forte
Quando frágil flor és mais fatal,
Quando meiga voz seduzes a corte.

Revoltas o tempo, a tudo mortal.
Quem te alcança é pescador ao desnorte,
Sereia…de quimeras natural.






1996






Rui Sousa

A INCONQUISTADA

Ela vive em Gijón,
A inconquistada…
Com dó, a sua voz conhece o tom
Que junta numa só a minha cabeça fragmentada…
Os seus olhos têm o mais elavado dom
Seduzindo a pobreza honrada…
O seu cabelo negro esconde pele imaculada.
Recordo-me como foi bom
Morder a tua pele por Diana invejada.

Ela vive em Gijón,
A inconquistada…
Do norte vem com o vento o som
Que amo e escuto na madrugada…
Ela por momentos amou…
Como uma lince fêmea se entregou
Ao lince da mesma espécie dizimada.
Tenho na minha alma o dom
De te sentir em Gijón,
A inconquistada…






13-12-2006




Rui Alexandre Sousa
E agora me lembra:

Sem a loucura
O que é o homem
Mais do que a besta sadia
Cadáver adiado que procria

«Fernando Pessoa» «Mensagem»















Uma mulher mal humorada
É uma fêmea mal amada.








2-1-2007










Rui Sousa

MUNDO

Pensando fecundo
Num sentimento profundo,
O meu rosto imundo
De lágrimas inundo.
A verdade dura um segundo.

Por mundos diferentes numa só terra
Viajei e nunca me encontrei.
Mundos desiguais desafiei…
Poeta de alheia guerra.

Mundos iguais desigualei,
Por haver neles tédio
De receitado remédio
Pela corrupta lei.

No mundo me deitei
Da filosofia aborrecida.
E como uma besta adormecida,
Tarde demais me levantei.


28-1-2007

Rui Sousa

DEPOIS DE TER LIDO UM POUCO A ILÍADA

Atena dos olhos de coruja
Viu a discórdia da velhice suja
Que intrincava teias invejosas
Na galharda juventude da Pampilhosa.

O deus das batalhas Ares
Desce rápido dos olímpicos ares
E faz um velho mocho desancar
Dez jovens que estavam a fumar.

Zeus, o deus do Olimpo lança um raio
Sobre a terra intimidando Ares e Atena
Que voltam para a sua estância serena,
E deixam na terra um aparente lacaio

Protegido destes deuses que procura humano
A sua Afrodite no meio da guerra adormecida
Como a flor mais apetecida e tão escondida
Fazem-no divagar nas estâncias de Ùrano.

Bem vindos à Pampilhosa, poltrões…
Vive aqui Páris fugido Menelau
E Dulcineia e Briseida navegam na Nau
Onde só D.Quixote tem boas emoções.





3-7-2008



Rui Alexandre Sousa

TENTEI

Tentei ter atitudes nobres.
Vi nobreza em homens pobres
Que derretiam trabalhando ao sol…
Alicerces do mundo que os engole…

Tentei compreender os mais fracos,
Mas nem neles devia confiar.
Expressei os meus sentimentos…afinal opacos
E de mim mesmo fiquei a duvidar…

Preferi as tabernas
Aos cafés mais elegantes
Que escondendo paixões internas
Eram frequentados por sinceros ignorantes…

Tentei o amor mais puro,
Doce grilhão da minha liberdade.
Pervertido da claridade,
Caí num denso buraco escuro…

Ah!Quero adormecer uma década
Vivendo em sonhos sem envelhecer.
Acordar na mão com o peso bélico de uma estranhada
Poderosa posse e com ela tudo estremecer…



30-3-2007



Rui Sousa

ESPCTÁCULO

Carnal tentáculo
Por uma vagina sugado.
Sexo avantagado…
Explosão de espectáculo…

Espectáculo decadente
Seduzido mormente
Quando ela está ausente
E te assombra a mente.

Espectáculo atraindo gente
À embriaguez consciente.
Espectáculo musical deprimente
Soltando à lucidez um vómito corrente…

Espectáculo paralítico
De tremeliques frenéticos.
Pensamento artístico
De gazes poéticos.

Uma eternidade de dor
Do brilhante oráculo.
Uma sombra de amor
Com todo o espectáculo.




29-9-2007




Rui Sousa

POESIA SEM VOZ

Fugindo do sol.
Um alcoólico sem álcool.
As naturezas escravas
Muitas coisas me explicaram.
E algumas difíceis palavras
Muito me simplificaram.
Ouvindo o meu eco.
Uma pedra caindo num rio seco.

Poemas feitos por mim.
Por quem nunca teve voz
Para os declamar nem para falar.
De como os fiz nem de onde vim.
Feitos por mim, feitos para nós.
Feitos para a natureza de quem se vai calar.






2004




Rui Sousa

QUANDO…

Quando tu falas baixinho,
Aconselhado pelo reflexo do espelho,
Tu enganas-te a ti próprio,
Mesmo quando estás sozinho.



Quando os sentimentos são profundos,
Vives em vários mundos
Que refectem na tua vida
A profundidade da tua eterna ferida.

Quando eu ponderar as minhas razões
Por um solitário caminho
Direi às minhas ilusões
Que já sou um velhinho.





2004





Rui Sousa

MEMÓRIAS, INSÓNIAS…

Tenho memórias, que merda.
Tenho insónias, tudo se herda…

No meu quarto onde impulsos douravam,
Insectos moribundos procriavam.
Imagens abstractas por momentos concretas.
Incertas, como abertas gretas…

As minhas memórias, os meus pensamentos
Rodeiam-me como furiosos ventos.
As minhas insónias, lânguidos movimentos
Observam furiosos tormentos…





20-9-2006





Rui Sousa

SER RAPARIGA

Larga o telemóvel.
O amor não é nenhum imóvel.
«que automóvel galante».
Querida, eu posso ser mais possante.

E quando tu te masturbas
Sozinha no teu quarto
A falar ao telemóvel.
E disfarçando te perturbas
Abafando os gritos como um parto
Que tu desejas tanto como um automóvel.

Desejas todos os homens ter
Antes de casar.
Eu até te queria foder
Enquanto não tens vontade de procriar
Com o teu prometido doutor
Obrigatoriamente erudito
Que não se sentirá aflito
Por ser um diminuto ejaculador
Que não abrasará a tua flor.



Contudo, não queiras ser esquizofrénica.
Doença mais letal na mulher.



23-2-2008



Rui Sousa

MINITA

Tu nunca foste bonita.
Arrastas as pernas de trabalho,
E não do caralho
Que a tua fealdade não arrebita.

Vestes fatos de treino coçados,
Chinelos de estimação,
Que tresandam ao cão
Que é o teu único enamorado.

O teu muito prometido marido
Vai-te partir os dentes da frente,
Porque lhe tens ferido
O marsapo pelo álcool dormente.

Quando adormeceres
Tem sonhos decentes.
E quando sorrires,
Ao menos lava os dentes.





1-8-2006




Rui Sousa

PARA A MINHA DOCE INIMIGA SOFIA POR QUEM VIVO MORRENDO

Conscientemente deitado no meio de feras
Procuro esconder-me daquela
Que não me olha assim…
As minhas mãos já não sinceras
Os meus sentidos voltam-se para ela
Por favor, não olhes para mim…






15-3-2006






Rui Sousa

CÉU

O sol tudo amanheceu…
Iluminando perdidas paisagens,
Torturadas imagens
Que a noite escondeu.

No escuro, eu…
Escondido de nós.
Azul o céu
Mentindo sobre vós.

Agora a noite veio,
Caindo em cima de um segredo.
O sol parece ter medo
E nada me parece feio.

No escuro, eu…
Escondido de nós.
Azul o céu
Mentindo sobre vós.





5-2-2006





Rui Sousa

COM O NOSSO CORPO

Com o corpo dela
Entrou num mundo imaginário,
Despiu-se até ficar nua,
Caminhou segura e bela,
Pintando um quadro lírico e hereditário
Onde a imagem mais próxima era a lua.
Ela não me tinha visto.
Qualquer gesto seria ordinário.
Estava num transe além da psicose.
Uma distância infinita em mim se cose.
Pensando em tudo o que não é previsto,
Ela tocou-me com olhos vendados,
Descreveu sentimentos e formas presentes
Que tapou com dois tecidos perfumados.
Representamos para o nosso querer
Intenso, desvendamos sentidos omnipresentes,
Procurámos gestos ensaiados
E jurámos que não nos podiamos ver.








Rui Sousa

BIANCA

Em superstições,
Rituais amorosos
Medi-me versus corações
De sentimentos enganosos.

Não te consigo merecer
Vendo em sonhos a tua pele nua
Mais nítida que a própria lua
A brilhar no ecuro do meu ser.

Tu és mais bianca,
Pele branca
Francamente mais branca
E mais bonita
Que Selenita.







27-11-2008






Rui Alexandre Sousa

ILUSO

É verdade que me encantei
Com o teu singular aspecto.
E por isso nem desgostei
De ser patético objecto.

Também só te procurei,
Porque primeiro me procuraste.
Foste a Afrodite que idealizei
E com o teu semelhante doutor casaste.

Não precisaste de pisar com os pés
Para a minha fantasia ruir.
Porém, infelizmente só amei uma vez
E talvez me tenha tentado iludir.






E do meu lado lúcido te queria agradecer
Por estranhamente me teres feito viver.





22-2-2008




Rui Sousa

ALGO NO NEVOEIRO

Noite linda de nevoeiro
Os cafés estão a fechar
Alcoólicos, ganzados, speedados
Acidados, drunfados, encavalados
Procuram um aberto café
Passa por eles um vulto no nevoeiro
Vestido de negro dirigindo-se para um outeiro
A paisagem é desoladora
Árvores esqueléticas
Sem folhas, sem arbustos
Gatos bufando pela fêmea com cio
Um só passo em falso
E espécie de cadafalso
Cai-se no seco rio
A caçadora Diana
É neste momento mais humana
Que essa bêbeda mundana
Que vomita que se mija e nada emana
Que encantos tem aquela diurna
Criatura que repugnaria
Tão desolado outeiro?
Estará aqui de ouro uma urna?
Alguma deusa se evidencia?
Algo no nevoeiro?

22-23-2008

Rui Sousa

NA SOMBRA

Há uma década adormecido
Na minha cova escutando
Uma pomba suspirando
Por algo que se quer esquecido.

Estão a comer e a beber
No cimo da minha sepultura.
E a minha mão descarnada e obscura
Começa a se mexer.

Começo a escutar
Feminis gemidos.
Subtis líquidos
Começo a cheirar…

Volto a ter sangue nas veias
Que quis sepultar.
Desprendo-me de teias.
Vou voltar…






2-10-2007





Alexandre Navarro

O RELÓGIO QUE PAROU

Quando a minha obsessão por ti passou
Reparei que nesse tempo um relógio parou.
No peito, um alarme disparou.
Um gemido me sufocou.

Noutros relógios ponteiros giravam…
Ponteiros que penetravam
Entre nádegas que avermelhavam
Como lábios que em tom de clépsidra comunicavam.

Vampiras de dia,
Anjos de noite.
Orgia na sacristia,
Universal açoite.
E o relógio que parou, pendia…
Para que lado me afoite?...





16-9-2006






Rui Sousa
E que da macabra esquizofrenia
Uma voz sempre me dissuadiu
Do crime passional.
Talvez por ridículos rodeado
Sou um esquisito.
Ou por ser mal amado
Estou por mim proscrito.

Gostaria de dizer
Que caminhei ao lado
De dezoito, homem álcool.
Que tentei domar……
Fumador de cavalos.
Que ainda hoje
Sou amigo de Carrata,
Exfutebolista que driblou
A morte.




23-12-2009




Rui Sousa

QUEM ME CONDENOU A TÃO MISERÁVEL EXISTÊNCIA E A TÃO VIL POEMA?

Parideira,
O teu cono é uma ratoeira.



Sorry babe,
Mas não posso sair contigo.
Só o jantar que tu achas merecer
Sairia muito caro.
Com esse dinheiro
Posso ir ao Camélias
Onde há prostitutas assumidas.