segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PUSILÂNIME

Inspirado em Symphaty for the devil


Querida, agora que sentiste
O meu mau hálito,
O meu sobretudo negro hábito
Diz adeus à vida que agora tanto carpiste.
Despe os teus seios ofegantes
Como duas pombas
Tentando esgueirar-se das grades,
E deixa a religião para os padres.
Vem partilhar sem medo
Esta garrafa de álcool
Até nascer o sol
Até perderes o medo
E contar-te um segredo…
Mas se tu estás pusilânime
Deixa-me contar-te
Que sempre estive sozinho.
Que encerrei Faraós e Césares
Vivos numa pirâmide,
Porque só eu sabia o caminho.
E fui o primeiro
A provar de Cleópatra
O tão desejado passarinho.
Por isso entrega-te sem pudor
E ajuda-me a fazer uma cria infernal
Com todo o amor
Que não existe
Neste mundo tão irracional.


Não me deixes triste.


6-12-2009


Alexandre Navarro ( Rui Sousa)

TEU GRELO

Teu grelo não morde anzol.
Teu grelo apagou o sol



Teu grelo, teu grelo,
Querida, não mintas para mim,
Diz-me quem esteve a come-lo
Num infernal festim…


Teu grelo não morde anzol.
Teu grelo apagou o sol.






TEU GRELO, TEU GRELO, TEU GRELO
TEU GRELO, TEU GRELO
TEU GRELO, ETC…




2-12-2009





RUI SOUSA
AMO-TE
Mil palavras para quê?











29-11-09






Rui Sousa
Quando os mortos cantarem
Uma imaculada história…
Quando os sonhos acabarem
Imortal seria na tua memória,
Se docemente me recordasses
Quando ferozmente amasses.









Rui Alexandre Sousa

A PRINCESA DESPERTA

Ela está nervosa
Como uma princesa ansiosa,
Esperando o seu jovem cavaleiro
Que há-de chegar sorrateiro
Dando-lhe todo o seu amor
E tirando-lhe todos os medos.
Os lábios dele nos ouvidos dela vão compor
Melodias e desvendar segredos.

Vendo-se ao espelho
Ela acaricia os seios
Em constante crescimento.
Tem no seu rosto vermelho,
A cor e os meios
De ter um amante de terno temperamento.

De repente o seu cabelo desata
Que lhe encobre as costas brancas.
As suas pernas têm emoções francas
E o luar nas suas nádegas dilata.

Ela está tão bela e tão triste…
Tem lágrimas nos olhos amêndoados.
Morde os lábios não magoados,
Porque o príncipe lhe resiste.


Ou não existe.


21-12-2006



Rui Alexandre Sousa

OS CÉLEBRES MEDÍOCRES

Falarei do ciclo das famílias
Com o poder do dinheiro.
Das eternas tertúlias
No milénio derradeiro.

Daqueles sedutores que se passeiam
Em automóveis potentes.
Sedutores que gorjeiam
Acelerações e derrapagens dementes.

Daquelas meninas mimadas
Que por anos excessivos
Engonharam e um dia se doutoraram.
Daquelas meninas enamoradas
Por carácteres inconstantes e subversivos,
A quem com ardor se entregaram
E depois com os prometidos doutores se casaram.

Daquelas festas vip onde se vê
A futilidade emancipada,
A cocaína snifada
Para não se tratarem por «você».

Aqueles que por arte duvidosa,
Por música má acompanhada por futilidades
Da prosa e por uma disponibilidade escandalosa,
São afinal os medíocres, as celebridades.



21-12-2006





Rui Alexandre Sousa

ESPANTALHO

É mais fácil amar
Os rebeldes e os intransigentes.
Não sou um sedutor,
Mas sou seduzido
Por pequenos pormenores
Que só existem nas mulheres.
Não levo a mal desprezos de mulheres,
Porque são os únicos seres que sabem dissimular.
O mais difícil conhecimento
É conhecermo-nos a nós próprios.
No breve tempo que passei contigo
Tentei pela primeira vez me dar a conhecer.
Falei demasiado de mim.
Sinto que só disse futilidades e disparates
E fiquei confuso em relação a ti.
Descobri que sou estúpido,
Por vezes arrogante
E egocêntrico.
Mas gosto muito de ti,
E talvez fosse mais feliz,
Se não gostasse tanto de ti.



Perdão, meu anjo




Beijos



Rui

AMA-ME OU MATA-ME

Cada um à sua maneira
Interpreta o que se dispõe a ler.
Estou de tristeza sobremaneira
Liberta que nem deveria escrever.

Estou completamente perdido
Sem nunca assim o ter sentido.
Sou no mundo indeciso…
Esmago irónico sorriso…
Quero chorar e ser abatido.
Quero matar e ser absolvido.

Estou do que escrevi arrependido.
Do cimo da tua pose, ata-me ou desata-me,
Que serei um palhaço por mim aplaudido.
Ama-me ou mata-me.





15-1-2007






Rui Sousa

AUTO ESTIMA

O amor faz-nos naquele
Instante parar.
No tempo imortal
Desesperar.

Sem esperança sonhar…

E nos casos de doença
Que a um só se destina
Faz perder a auto estima.




E também o crime passional se subestima…





8-11-2008





Rui Alexandre Sousa
E se quiser ser útil, não me corte na casaca,
BARBEIE-ME













Filosofeio no sossego
De uma visão imaculada.
E tu distorces-te mascarada
Para um cego?!...








8-11-2009





Rui Sousa

SENHORA CUSCA

É baixinha,
Redondinha,
De óculos
E quem a desconhece
Diz que a ninguém pode fazer mal.
Mas diz quem a conhece
Que se lhe desvela
Um pouco a vida pode ser fatal.

Disse-me que o dono de uma loja
Abria mais tarde
Porque estava rico
E não precisava de se esforçar.
Meia hora na loja esperando fico,
Porque com ele estava a cuscar.

Vá prá missa se ocultar
Demónio de saias de língua viperina.
Bem pode com os anjos sonhar
E com a bênção latina,
Porque a segurança que busca
Senhora cusca
É somente o Inferno a cuscá-la para a torturar.





26-11-2009




Rui Sousa

terça-feira, 10 de novembro de 2009

QUEBROU-SE O ENCANTO

Durante uma década
Vivi
Ou morri
Por ti.

Ninguém te amou como eu…
De Deus era ateu,
Porque eras a minha deusa.
Sei que te podia ter tido,
Mas para sempre era o meu desejo.
E agora, já não cego, vejo
Que te podia ter tido
E era indiferente num ápice
Ter-te perdido.

E agora, antiga sereia
Que te vejo um pouco lúcido,
Vejo-te muito feia.



1-11-2009
Dia dos mortos




Rui Alexandre Sousa

GÉNIO MORTO

Whisky,
Leva-me contigo
Leva-me contigo, yeah…


Um cântico:
Diva,
Diva comigo




Vinho do Porto,
Génio morto.






31-10-09








Rui Alexandre Sousa

ESTRONDO LADINO

Estou a sonhar
Galopando numa orgia irrequieta.
Estou a despertar,
Porque a porra está erecta.

Estou a pensar
Que não quero aquela marafona.
Estou a caminhar,
E todos os caminhos vão dar a cona.

E agora a cagar
Não posso esquecer
Aquele Toni, ou Tony Carreira
Quando ligeiro zurrando não parece zurrar
Os plágios de ladino…




30-10-2009

BEM VINDO A CASA (PSIQUIATRIA)

No mundo da esquizofrenia
Nem sozinho podia estar.
Escondido da luz do dia,
No escuro demónios a uivar.

Convenceram-me a tratar
Ilusão que me atrasa.
De esquecer jogos de poesia,
E assim ouvi falar:
-Bem vindo a casa…
Psiquiatria.

Por conviver com outros pacientes
Resolvi mostrar bom ar.
E os meus elevados docentes
Disseram após julgar:
-Para o mundo podes voltar!

Andei no mundo aos círculos
Aparentando ser normal.
Vi normais tão ridículos
Que me apeteceu ser anormal.

E assim de poesia levantei asa.
E voltei a ouvir alguém que dizia:
-Bem vindo a casa…
(Psiquiatria)


Isto é só um poema.
Não queria dizer…




24-8-2007





Rui Sousa
Não gosto de ter esquizofrenia.
Não consigo interiorizar filosofia.
Não creio no âmago da teologia.
E de mim, por vezes foge a poesia.

A minha poesia tornou-se sincera
E eu tornei-me um falso poeta.
A minha mente é habitação de Megera
E o meu coração envenenado cometa.

A ti, musa diferente
Que dás verso à poesia
Que caminhas sempre em frente
Apoiada na filosofia
Desconheces a minha vã teologia
Que já ignoro como brutal heresia.

Que diferença faz dizer
Que foi Abel que matou Caim?
Se nos extremos está Lúcifer
E nos extremamos assim?

Que estranha confidência
Te poderia desvendar,
Se te estou a venerar
Por mandares na coincidência!





22-2-2009




Rui Sousa

OLHOS DE RUBI

Os olhos de tom castanho claro,
As claras avermelhadas,
Olheiras roxas.
Seu amante me declaro,
E as pupilas dilatadas
Insinuam que lhe devore as coxas.
De repente, uma cintura perfeita senti,
Embriagado pelos olhos de rubi.

Os seios molhados desejam carícias inconstantes.
Os mamilos mais duros, mais raros que diamantes.
Já do cu o cono distante,
Coçando-se na verga hesitante
De avermelhar
As nádegas da cor do luar.
Os cabelos de ouro com as mãos prendi,
Olhando nos olhos de rubi.

As pernas de seda transparente tapadas,
Com vigor apalpadas, num momento destapadas,
São pelas mais presunçosas invejadas.
O monte de Vénus molhado,
Às minhas mãos colado e quase arrancado.
O vulcão a contrair e expelir
Lava, e a porra grossa e torta que novamente lhe meti,
Mais contracções na vulva se fazem sentir.
No final o clítoris lhe mordi,
Olhando nos olhos de rubi.



1-8-2006





Rui Alexandre Sousa

CLÍTORIS NUCLEAR

Se eu fosse fazer
Com qualquer mulher
O que só é possível contigo,
Causava-lhe infernos de dores
De onde tu só obténs prazeres.
Eu tenho mulheres de todas as cores.
(parecem-me todas iguais)
Quero partilhar
Ementas vaginais,
Líquidos menstruais
Que vão desaguar
A orgias infernais.
Aqui estou eu na tristeza
Que me pode consumar,
A princesa que tem a destreza
De ter o clítoris nuclear.
Eu vi-te a chorar
Por um sentimento ordinário.
É um caminho tão tortuoso e solitário
Estimular o teu clítoris nuclear.
Se tu precisares de carinho,
Ou de algo mais que um amigo
Eu estarei sozinho,
Exposto ao perigo.
Não quero a tua fidelidade.
Por quantos minutos guardaste castidade?
Quero te torturar
No prazer e na vontade
Que pode aniquilar
Toda a humanidade.



16-7-2009




Rui Sousa

MADAME DAS TRAÇAS

Artistas nas ruas com ideias cruas
Glosam motes de guerra.
O céu bélico desaba na terra,
E cantam-se e pintam-se mulheres que nas ruas dançam nuas…

Mais que tudo isto me incensa
Uma casa abandonada,
Onde uma mulher de feição maculada,
Na vida feitora da doença,
Na janela discreta presença
Me faz ter uma crença.

Madame das traças
Com o coração cheio de amor.
Entre humanos da mesma cor,
Também distinguem raças.

Madame das traças,
Terás um dia sido amada?
Terás sido desejada
Como uma só mulher que encerra em si todas as graças?...




12-5-2006





Rui Sousa

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

GRANDE VERGONHA

A atitude parece tristonha…
Que belos gestos tem a marafona.
Parece uma caverna, a sua cona
Sugando vinte centímetros de vergonha.

A minha massa cinzenta é decadência
Que procura celestial existência.
Amo como quem tem a experiência
De ser frenético e fingir sonolência…

Não sei porque, mas tenho pressa
De viver abortado de humanidade.
Nunca viverei em sociedade.
Vê-me e engole-me depressa…

Dispõe-te ao elixir que se disponha
E põe-te a parir mais uma grande vergonha?...


Gostava…mas o que seria se fosse o único bruto do mundo?...




6-1-2006






Rui Sousa

A MUSA QUE NÃO DEVIA SER

Com perfeitos gestos,
Perfeitas expressões
Rouba todos os corações.
A vaidosos ou modestos
Só lhes ficam restos.

Muitos versos me inspirou…
Muitos poemas lhe escrevia
Em noites que o estro tombou
Procurando a perfeita poesia.

Do âmago do meu ser
Os meus poemas ela lia.
E com um qualquer se cobria,
A musa que ser não devia.






14-3-2009






Rui Sousa

LOS JUGUETES, TRETAS, BAGATELAS

Uma palavra, uma bagatela.
Um olhar sem sequela.
Uma boca imperfeita
Numa mordida que se deleita.

Uma criatura satânica
Fingindo um corpo de donzela.
Uma mulher extravagante e bela
Esconde uma alma romântica.

No mundo teatral
Para quê psicologia?
Em postas a poesia
Feita por um canibal.

Queria ser um pesadelo
Nas tuas doces memórias.
Mas o teu coração é frio gelo
E o resto são histórias.



19-10-2009


Rui Sousa


Onde estás senhora minha
Que te não dói o meu mal.
Ou não o sabes senhora,
Ou és falsa e desleal?

D.Quixote primeira parte
Cervantes

WHISKY DE 32 ANOS

Há quem uma cana
Transforme numa lança.
Há quem seja tão bacana
Que da infância não tenha
Uma má lembrança.

Alguns chegam ao poder…
Poder bis.
Quando tão senis
Não têm força para foder,
Fodem o país.

Eu só tenho uma lembrança…
Um whisky de 16 anos
Que o meu pai deixou
Quando partiu há 16 anos.
E tão alcoólico compulsivo não sou,
Pois que o bebo como elixir precioso
Que irá durar tanto como eu.





22-10-09





Rui Alexandre Sousa

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

JÁ NÃO SOU NOCTÍVAGO

Já noctívago não sou…ao sol impuro
O que sou aos poucos se vai vendo.
Vampiras de olhos brilhantes, no escuro
São cintilantes, mas no dia vão-se adormecendo.

Criaturas da noite, corvos, corujas, morcegos,
Vós que todos juntos repetiam
Os meus ais e se compadeciam
Dos meus amorosos desassossegos…

Agora sou um diurno forasteiro
No sol que cega os pensamentos.
No calor que entorpece os movimentos.
Caminhando na minha terra, caminho estrangeiro.








12-3-2009

NÃO COBIÇARÁS A MULHER DO PRÓXIMO?

Por muitas vezes ao ver
Extremamente seres tão contrários
Penso que o que a mulher quer
É divertir-se com homens otários.

Chegou-se a ele primeiro
E de longínquas terras veio
Amar um babuíno feio
Talvez pelo colorido do dinheiro.

Considero a fêmea do homem
A fêmea mais fútil.
Talvez do lobisomem
A fêmea seja mais útil.

Só sinto confusão e dor…
Porém, bela e discreta Sofia,
Se a mim entregasses o teu amor
A mulher do próximo não cobiçaria.





18-1-2009

REDIMIDO

Tu pensas demais
No que poderias ser.
E não consegues deixar de ter
Atitudes animais.

Tentei não amar
Como um comum mortal.
E acabei por me odiar
Num amor imortal.

Gostava de ter na mente
Tantas memórias como uma borboleta.
De renascer novamente
E tornar a pulsação irrequieta.

Sou no mundo
Um vampiro esmorecido.
E no olvido profundo
Estarei redimido…





30-9-2007
Companheira solidão…
Amada escuridão…

Para vós quero voltar.
Queiram me perdoar,
Se vos quis trocar
Por um ser que me encantava
Com meigos olhos que me ofuscavam.
Uma doce voz que me usava,
Um doce hálito que me envenenava
Com gestos perfeitos que um cadáver mirravam.

Não sei ser do dia.
Sou perfeito de imperfeição.
Vamos fazer uma orgia,
Companheira solidão,
Amada escuridão.






24-2-2007
Oh tempestuosa noite,
Oh natural açoite…
Limpa com a tua chuva o pranto
Que nunca na felicidade se acoite.
Ventania que causa espanto
Arreda-me do instável encanto
Que nunca sinta a chuva fria
Purificando a pele seminua.
Humedece-me baça lua
E escurece a alegre poesia
Que nenhuma mulher elegia.
Dá-me o que ela para si não gostaria…
Oh natural açoite.
Oh tempestuosa noite…





1-5-2007

O CANIBAL DOMESTICADO

O canibal está domesticado.
Está medicado
E apaixonado.
O canibal amante
Morde o clítoris
Delicadamente.
Por sangue não mata o canibal.
Todos os meses tem a sua refeição.
É mais usual e pontual:
Bebe sangue de menstruação.





29-9-2009
Estou a estourar de existir
Envolto nos meus medos de criança.
Imagino-te a sorrir
Em mais uma nova dança.
O meu amor é cego.
O sedentarismo é desassossego.
A tua voz pode alterar caminhos.
O sossego numa cama de espinhos.
Não consegui capturar-te
Com a minha cega resignação.
Cobarde deixei escapar-te,
Porque não suportava a respiração.
Podia ter beijado as tuas perfeições.
Podia ter segurado as tuas mãos
Pelo menos durante três anos.








7-9-2009

E PORQUE NÃO?...

Um Andro sexual
Ao fim de cinco ânus
Com uma ninfeta
Têm um filho com pé de bode.
Uma princesa hetero vaginal
Ao fim de cem anos
Mantém a barca erecta
E o Inferno em ode.








2-9-2009

OS BOÉMIOS E OS BEATOS

Aqueles que por ateus
E que por convicção
Têm a sua própria bíblia,
Sonham com a imortalidade
De serem estudados
E em vida publicados
Como outros Fernando Pessoa.
Outros boémios tomam drogas
Mas não produzem arte.
E bailam e dançam
Ao som dos artistas que admiram
E roubam e matam
Para o seu morto vício.
Esperando que no Inferno
Vão manter o estilo
E quem sabe conhecer
Jim Morrison ou Kurt Coubain.

As beatas que vão à igreja
Esperam pagar pecados passados ou presentes,
Ou têm medo do infinito.
De forma cordial todos se saúdam
E quando saem da igreja
Em suas casas, (nos cafés), (tascas)
Em pequenos grupos
Cuscam das vidas alheias.



Ai, são cuscas, cuscas e mais cuscas,
São as cuscas da Pampilhosa…




6-9-2009

ATÉ…

Até desarmarem
Novas pontes.

Até se alargarem
Novos horizontes.

Até se vislumbrarem
Novos montes.

Até secarem
Novas fontes.







30-8-2009
Querida, querida
Eu estava a brincar
Quando disse que gostava
De te partir esses lindos dentes.
A chama rosada a queimar
Tudo o que a penetrava
E tudo o que entrementes.

Rapaz com cancro nos pulmões
Fuma outra vez.
E de mau, outra vez e de revés
Não comove nenhuns corações.







12-8-2009

SEMPRE A PROA

Quem tu pensas que és
Para veres em mim um farrapo?
Ou será que temes ou vês
Que tenho marsapo
Para te por o cono num trapo?

AS MINHAS BRUTAIS MÃOS DE ARTISTA

A máscara que estás a usar,
As minhas mãos vão pintar.

As coisas que estás a desejar,
As minhas mãos vão encontrar.

As tuas cuecas que estou a apertar,
As minhas mãos vão arrancar.

As tuas nádegas são o luar
Que as minhas mãos vão avermelhar.

Os teus lábios vou beijar,
Antes de a tua vagina penetrar.
Com os dedos a vou explorar
E o teu clítoris nuclear
Às minhas mãos se vai colar.

E se por socorro quiseres chamar,
As minhas mãos não vão deixar.





22-2-2008

6 9

Sem uma crença astróloga
Sou o amor, psicóloga.
E com uma receita terapêutica
Sou o viagra humano, farmacêutica.
E como uma vulcão na banheira
Sou o fogo, bombeira.


3-10-2008




Amor, psicóloga.
Viagra humano, farmacêutica.
Fogo, bombeira.





Rui Alexandre Sousa

AQUECIMENTO HUMANOBOÇAL

Oh, saudoso Inverno rigoroso
Que tão pouco te saudei.
Oh, Primavera chuvosa
Que contigo solucei.
Oh, Verão impiedoso
Que o teu estro nunca encontrei.
Serei algum tipo de poeta romântico?
Ou algum fanfarrão e satírico
Que culpa as grandes potências
Pelos céus de inclemências?


Ou talvez me queiram convencer
Que o aquecimento global
Se deve a ter de se fumar na rua?





1-10-2008

BOMBEIRA SENSUAL

Quem dedica a sua vida a ajudar
E expõe às tormentas um bom coração
O fogo em mim está a atear
E afogando a flutuável razão.

A tua beleza é transcendental…
O teu uniforme formal
Não esconde a tua beleza fatal
De bombeira sensual.

Mulher prática e doce.
Dava-te do coração a posse,
Se os teus penetrantes olhos fatais
Compadecidos dos demais,
Combatendo os fogos florestais
Incendiassem ainda mais
Os meus restos mortais.






20-6-2009

SONHO DE MULHER

Cai em mim a noite
Como um aguardado açoite.

Bem podias ser deusa,
Mais atractiva que o luar,
Caçadora por vocação
De masculina consciente presa
Que quer a tua rosa espumar
Como o mar na sua imensidão.

Rosto querido do dia.
Rosto amado na escuridão
De novas cores sempre em renovação
Que inspiram poesia
Ao poeta mal fadado,
Ao homem torturado.






6-6-2009

AMOR SEM FRUTO

Tão doce criatura
É no meu coração diabrura.
Palpitação que perdura
Na mente inconstante gravura…

Penso que o meu aspecto
Estranho ela não estranhou.

Julgo que o meu dialecto
Tremente a segurou.

Estranho que não sendo concreto
Um gesto seu me concretizou.

Falei-lhe do poético projecto
Que afinal não rimou.

E sou afinal o objecto
Que ela não usou?

Ou tu preferes
Um amor astuto
Que escraviza mulheres?
Talvez já experimentado tenhas
Um amor sincero, bruto
E por isso te venhas
Vingar do meu amor sem fruto?





12-4-2008

NO CASTELO AO SOL

No castelo, ao sol coberto de amor,
Uma princesa estava enternecida,
Coberta de luxos apetecida
Por reis querendo, mudos, seu louvor.

Súbito falaram certos da dor
Que sentiam, desta graça da vida,
Escrevem versos a arte ressentida
Transforma a beleza certa em horror.

Acha o momento cru de esquecimento.
Eu desejo tudo menos paciência.
O que gasto em velas daria sustento.

Leva o escasso tempo, a minha existência,
Porque o corpo velho levado ao vento
Não é fortuna, não é preferência.





19-1-2008

NÃO BASTA

Digo
A mim mesmo que não quero sonhar,
Que nunca mais quero amar,
E continuo a ter
Sonhos que acabo por escolher.

Não basta dizer que estou farto
De não ter uma jovem viúva
A prantear como a chuva
Que escuto nas telhas do meu quarto?...

Basta
A pedra que não gasta
Como sentimentos
Que a solidão arrasta.
Femininos cruzamentos
De despistes e tormentos,
Basta.
Não basta…






3-11-2007

A LUA RESSENTIU-SE

A lua estava mais brilhante
Vista do coração da floresta
Por um eclipse humano, uma decadente festa
Que via a sua Afrodite ofegante,

Nos braços de um humano arrogante
Que a impulsos da lua a possuía
Como o mais venturoso amante,
Que tantas venturas não sentia.

Sentado nas escadas do cemitério
Vivia assim tão bela lua.
Vendo a tua pele nua
Não via razão de ter o coração critério.

Lentamente o céu foi escurecendo
E a brancura da lua de negro vestiu.
Por um momento o humano eclipse sorriu.
E os seus sentimentos não escondendo
A própria lua ressentiu.





8-9-2007

DONO DO MUNDO

Tu vives em palácios isolados
Com regimentos militares pelo mundo espalhados.
Dás dinheiro e leite aos teus graduados
E sugas ração do cérebro dos soldados.

Com os teus incrédulos pensamentos
Outros como tu neles descansados dormem.
Gastas fortunas para os teus sexuais movimentos,
Enquanto jovens esfomeados não dormem.

Tens pinturas sagradas de anjos e santos no teu quarto.
Razão de uma vida de muitos artistas.
E no púlpito furtado onde exercitas,
Todos sabem que de luxúria e lascívia vives farto.

Tu nunca tiveste vida no coração,
Mas eu desejo que um dia morras.
Tu mentes no teu caixão,
Enquanto escondem-se verdades nas masmorras.

Quando morreres saibas que foste um inglório.
Uma só vida das que roubaste
Vale mais do que tudo que herdaste e ceifaste.
Nem Lúcifer te quer para seu demónio.




24-3-2007
POEMAS EDITADOS NO JORNAL DE NOTÍCIAS NA PÁGINA DO LEITOR ENTRE 24 DE MARÇO DE 2007 ATÉ 20 DE JUNHO DE 2009

COM SINCERIDADE…

Há tanto tempo esquecido,
É tão difícil sair das trevas para a luz.
Há tanto tempo obcecado e perdido
Nova beleza vi…não me propus.

O seu caminhar inquieta-me.
Fico perdido no seu olhar
Encantado com o seu doce falar,
E tudo isto enleva-me

O pensamento a pensar
Quão pequeno é o universo
Que pensando não cansa caminhar
Para longe do universo adverso.

Porém, quando de perto a vejo
Fico ansioso e nervoso
E não sei o que faço aqui.
Talvez um repentino beijo
Me fizesse mais poderoso,
Quando, Sofia, tenho medo de ti.






13-7-2009

EM COMA POR EXCESSO DE DRUNFES

Não sei o que é isto.
A morte,
Tenho de fugir disto.
A morte,
Não posso ser visto.
Vejo uma ténue luz…
Vejo um anjo de mulher
Que me maltrata e não me seduz
Mais do que um esquecido prazer.
Estarei num coma profundo?
Não, que ouço as enfermeiras
A ecoarem no meu mundo:
Senhor Rui está-me a ouvir?...
Estou tão apreensiva…
Por que é que fez isto?...
Quero fazer sexo contigo em coma?
Venho do coma, um anti herói sozinho,
Com o rosto como um pergaminho
Que foi desvendado neste longo caminho,
E vejo de um médico o focinho.
Não, não quero de ninguém carinho.
Quero estar entre a vida e a morte
Num universo frenético ou quietinho.






13-7-2009

LUA PUDICA

Existia uma rua
Onde o sol se apressava.
Onde a chuva cultivava
A rua
Onde não se ouvia a palavra
Minha ou tua.
Onde o sangue de Deus
Era partilhado e moderado,
Onde não se viam ateus.
Chamava-se Rua Pudica,
Por nome e por voz pública.
Mas quando a lua por lá passava
A sua nítida brancura avermelhava.
Vendo homens que se sodomizavam,
Lascivos que bebiam o sangue de Deus
Até vomitar, tornavam a beber.
Onde demónios e vampiras se lambuzavam
De saliva, sémen…Julietas, Romeus
Que tornavam ao seu permitido ser
Quando o sol começava a nascer.




12-5-2009
Oh, roído ruído…

Os gestos menos correctos
Muitas vezes não compreendidos
E sem peso na consciência,
Iludem os mais concretos
Que por serem repetidos
Lhes chamam demência.

EVERESTE DE CULPA

Imagino a grandiosidade
Do monte Evereste.
E imagino a longevidade
E a beleza que não me deste.
Deixaste-me louco.
Infelizmente sem loucura
De tentar subir este monte.
Deste-me tão pouco
Do que eu andava à procura…
Quando morrer de vergonha talvez te conte…
A culpa que eu sinto
Causa mais desafio que o monte agreste.
E o amor que me deste
Faz ser doce o absinto.
E sem a atitude
De continuar a subir
De grande altitude
Continuo a cair…





24-2-2009

FRIAMENTE SOFIA

Quem está aqui
A escrever não está aqui.
É uma questão de interpretação.
A bronquice é utopia.
Quem saiu dali
Vem com um peso no coração.
Friamente Sofia.








9-4-2009

FRIAMENTE SUZANA

Deu um vaqueamento
No meu coração
Quando foste para a Vacariça.
O meu mau pensamento
Tem vaga noção
Que aí amas e não mortiça.
Sentes-te vingada e ufana.
Friamente Suzana.



Estarei cego
Procurando
O meu ego?





9-4-2009

500 ANOS

Quem me fez
Não estranhei
Nem perguntei
Quem és.

Em 500 anos de obscuridade
Nada sei de Deus ou do Diabo.
Sei que para mim mais macabro
São vagos raios de claridade.

Pensei não amar ninguém.
Mas da minha suposta casa abandonada
Do escuro vejo numa janela uma dama saudando a manhã.
Mais delicada e mimosa que alguém
Que por mim foi muito amada
No abismo que existe entre um anjo e Satã.

Ninguém ama mais que um vampiro.
Como do lobo uivos que me ressoam
Pela morte da loba que para sempre escolhi.
No meu sombrio retiro
Matei milhares de pessoas,
Mas não consigo fazer mal a ti.





Rui Alexandre Sousa
Sofia,
Há um demónio atrás da tua porta…
E tem um corpo viscoso e imundo.
E uma cara medonha e torta,
E é corrompido como o mundo.

Há um demónio no teu chão,
E ele ergue-se como um espantalho.
E diz num cortante ralho
Que é dele o teu coração.

E ele bebe, vomita e fede
Da humana teologia.
E ele é roto, meio nu e pede
Que o cubras de filosofia.

E ele é manco,
E ele é alto
E de juízo falto.
E é sujo
E diz num rujo
Que escreve poesia
E quer para sua noiva a Sofia.





31-1-2009

BIANCA

Entrega a tua vida
Engrandecida
Aos meus encantos
Na taberna dos prantos.





13-2-2009

PEQUENA CRÓNICA DE COÇAR A CONA

Chamo-me Sarah Connor e vivo num futuro controlado por máquinas, que infelizmente
Não evoluíram para o sexo. Assim voltei umas décadas no passado em busca de homens atraentes. Cheguei a um bar onde só se viam machos bêbedos e onde eu era a única mulher. Vestia um vestido semitransparente sem trazer roupa íntima por baixo. Seis deles começaram-me a apalpar de forma maquinal, e como de forma maquinal eu não gosto, e me chamo Sarah Connor desanquei-os a todos. Passei a noite toda a beber Whisky com Red Bull e fui para casa coçar a cona.








5-7-2009

RAPARIGA

Rapariga: Estudante, alfacinha, tripeira
Em breve
Vais ser uma parideira,
Breve
Vais ser uma parideira…
A paixão ardente e leve
Torna-se uma carga pesada.
E até as crias tão desejadas
Estão-lhe destinadas
Uma educação displicente e errada.






29-6-2009

PROA

Sofia, sempre tão bela
Caminhando com tanta proa
Por essa sinistra viela
Um dia, algum tarado
Te abalroa.







10-6-2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ao universo erudito
Dou um coração aflito.






Rui Sousa

TABERNA ANTIGA

Eu vejo uma estrela
Que penso que lê
O que eu escrevo
À luz de uma vela,
Porquê?...
Estou sentado
Na taberna antiga
Bebendo único vinho
Novo que não estranha
A sequiosa barriga
Como um vento quentinho
Que renova e desentranha
Uma unha preta que me arranha.
Por trás de mim está
Uma diferente mulher
Que a atenção requer
Em cada diferente ideia.
Também estão a perceber
O canto e o ranger
Como uma sereia
Esculpindo uma teia…
Calados
Todos bebem…
Todos fedem
Sentimentos guardados…
De repente
Aqui poisa cansada
Uma pomba branca…
De repente
A porta sombria e pesada
Sozinha se tranca.
Despem-lhe os virginais folhos
Monstros, vampiros inimaginados.
Vê-me com a graça dos teus olhos
De medos e sentimentos frustrados.
E abraça-me com os teus braços admirados
De poderes ilimitados.


13-12-2007

A LINDA FARMACÊUTICA

Amanhece o sol tímido
E sente-se um dia húmido.
Algo aguarda no nevoeiro…
Algo que a noite inteira
Por ermos e cemitérios caminhou,
Exprimindo-se verdadeiro
Que com sentida maneira,
Aos corvos e corujas os seus males confessou
Que os comoveu e tocou.
Parecia que a lua me vigiava.
Olhos esverdeados com doçura
Eram no meu peito ciúme e amargura
Que todo o corpo torturava.
Estes sentimentos em mim guardo.
A civilização ainda ressonava
Com a pressa que a aguardava…
Sozinho continuo…aguardo, aguardo…aguardo…
Carros de gélida bateria
Soluçavam na manhã cinzenta e fria.
De ansiedade ainda ardo.
A vila já acordou.
A minha audição já se acomodou.
No entanto…aguardo, aguardo…aguardo…
Eis, que finalmente
Alegrando-se o dia
De carro ela aparecia,
E passando por mim sorria…
Para o seu trabalho se dirigia.
E eu…espécie de ridículo vigia,
Não chorava nem sorria.
………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Ela tem natural simpatia
No seu trabalho que faz com regra.
E a sua doce atitude alegra
Moribundos, doença e antipatia.
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
E para a minha doença
És o mal e dás o remédio?...

3-10-2007

NOUTROS TEMPOS A POESIA…

Quando dos poetas a sua poesia
Expressava epopeias de mulheres…
Sussurrada aos ouvidos destes seres
Como uma brisa que no calor se aprecia…

Quando com brutos casadas
Por interesses do forçoso masoquismo,
Antecipou Bocage o romantismo
Para as ânsias enamoradas.

Quando de Pessoa o modernismo
Transcendeu e esquecido morreu.
Incríveis noites de pessimismo
Descreveu e para sempre viveu.

Agora vive-se uma cega utopia
De automóveis e computadores.
Morreram os amores e as suas cores.
Noutros tempos a poesia…








12-5-2007

Por causa de ti (LAURA)

Por causa do teu olhar
Desinibido o meu afecto,
Fui um deus saindo do mar,
Molhado e erecto.

Por causa dos orvalhados
Quentes lábios teus,
Dias de sol foram desprezados
Divinamente ateus.

Por causa do teu sertão
Como um pecado materno,
Fui um eremita aquecido no Inverno
E esquecido da solidão.

Estando longe de ti,
Estou mais cativo.
Por causa do que em ti vi,
Estou vivo.







22-3-2007
Disseste que o meu olhar é lindo?!...
Se os olhos espelham a alma
Verás que nas cores a sua calma
Por ti se tem esvaindo.

Não vês o negrume
Nas sentidas olheiras?
Não sentes o queixume
De sinceras maneiras?

Por o teu ser vislumbrar
O sol se foi ofuscar.
E por te ver no luar
Os meus olhos vou fechar
Feios e vermelhos de chorar.








14-1-2008

ORQUÍDEA, MARGARIDA E ROSA

Com mais graça que as demais
Serenamente te levantais
Despertada pelos meus ais?...

Sinto-me envenenado
No púlpito do coração.
De modas desenraizado
A tradição sempre foi corrupção.

Do coração teologias
Escurecem os meus amores.
Por cândidas musas te movias
E te entristecem agora as mais belas cores.

Aquela orquídea, margarida e rosa
Escondia-se de descarados olhares.
Cândida dos meus pesares,
Mais vistosa que a flor mais formosa.






13-1-2008

MEMÓRIAS DE UMA NOITE

De uma noite confissões
De felinos olhares
Morrem dois corações
De sinceros pesares.

E enquanto o passado
Para longe parecia voar
Com a linguagem universal…
O luar foi por nós minguado
Tendo indo Diana caçar
Acessível presa mortal.

E quando eu estava ocupado
A beber 13 shots de mescal,
Tu davas-me o teu olhar despreocupado,
Emancipando Portugal.

De infortúnio emancipado
Fizeste-me ver a guerra.
E um poeta desafortunado
É sempre um estrangeiro
Na sua terra.






7-1-2008

FAZ-ME…

Se o cérebro não for submisso
Ao escravo coração
Libertar-me-ei da razão,
Se tu gostares disso.

Já dissemos tanto adeus
Inconscientes da esperança.
A razão pede a cobrança
E só questionar já é aceitar um Deus.

Sedução de olhares
Mais confusos que palavras.
Intuição de mulheres
Não tocam as mãos escravas.

Faz-me provar a maçã
Brilhante e desembaciada.
E com violenta flechada
Cupido faz-me odiar a manhã.










6-1-2008

FAZ-ME ODIAR O SOL E AMAR FIEL O ÁLCOOL…

O corpo exposto
A animal filosofia
Em dois repartes.
E com estranho gosto
Penso que a pornografia
É a rainha das artes?

E loucura é ter pejo
De não tratar frágil mulher
Que insinua que quer
Ser tratada com animal desejo?

Queres saber
O que estou a escrever,
Se é fácil dizer
O que não estou a entender?

Tenho de ocupar a minha mente
Com o que não estou a perder.
Com o que não me satisfaz.
E esquecer de repente
Aquilo que se vencer
Não me ganhará paz?

Embriagado
Por ser algum.
Desesperado
Não sendo nenhum.






4-1-2008
Pessoas, vendo raras
Expressões que enlouquecem
Por vezes se esquecem
Das suas próprias caras.

E por vezes vejo um babuíno
A possuir uma deidade.
E vejo também uma beldade
Entregando-se a um rico suíno.

É chegada a minha vez
De ser um porco soez,
Grunhindo e suando por dinheiro
Sendo outrora um romântico verdadeiro.

Havia alguma coisa no caminho
Que justificava a minha dor.
Um comichoso feminil ardor
Que à tempestade expunha o passarinho.



Destemida como uma gata com cio…








3-1-2008
Tenho nada…frenético na minha cama…
Preso de insónia por quem não me ama.
A Invernal noite por mim chama
E iluminados pelo poste que inflama
Chuto fantasmas nas poças de lama.

Quero quebrar o encanto
Que assim me levava para o fim.
E quero da chuva sentir o pranto
Que nunca fizeste por mim.

Na minha melancolia suicida
Só tinha no álcool calor.
E na minha confusa visa
Resumi que só tenho amor.







2-1-2008
E parado no tempo que deixaste para trás…
Durmo só acompanhado
Pelo vómito de uma garrafa
De whisky:

Pedi tantos carinhos
Frenético e demente.
Andei por tantos caminhos,
Mas nunca atravessei a tua mente.

Agredido por fantasmas que soltaste…
Vendo concretas filmagens
Em inconcretas imagens
Assim te esperei e nunca mais voltaste.

Gozado por seres concebíveis
Em nada estou integrado.
Desprezado por seres desprezíveis
Deixaste-me ser um inadaptado.

Agora estou sóbrio
Talvez por não ter saúde
E nenhuma droga me ajude
A ser o teu ópio.





29-12-2007

ABANDONADO

O Cristo redentor…
O Paulo redimido…
Não lhe conheço o valor
E ninguém é protegido.

De Vulcano os seus martelos,
Zeloso forjou os anelos
Que enleiam Marte e Vénus.
De Medusa os seus cabelos
Vi escondidos nos olhos mais belos.

Por Afrodite enamorado
O rio Estige encontrei.
E de corpo inteiro mergulhei
Deixando Páris enciumado.

Sou um Lázaro assim fadado.
Um Bocage envergonhado.
Um estro embaciado.
Um Casanova abandonado.





26-12-2007

ADORMECIDO HÁ TANTO TEMPO

Há tanto tempo adormecido
Escondido do mundo aborrecido
Com os meus sentidos imprevistos
Cheirando o sangue contraído,
Escutando abafado feminino gemido,
Saboreando odores esquisitos
Com um voraz intuito descontraído.

A minha língua e os meus lábios quentes
Querem racionalizar a tua intuição.
De te morder com beijos ardentes
Intrincados na correspondida paixão.

Mas, há tanto tempo adormecido
Não consegui adormecer o coração
Batendo pelo rosto mais querido.
Pelos olhos que derretem a razão.
Um corpo esguio que requer atenção.
Mas, por tudo isto ferido
Voltei frenético para o caixão
Onde há tanto tempo adormecido…






17-12-2007
Tu pensas que és esperto,
Porque não vês
O mundo desperto
No que não crês!
Não és.

Enquanto eu viver
Serei um imprestável.
Quando eu morrer
Continuarei preso
Ao imaginável.

ESTOU PRESO NESTE MUNDO.
Impassível impaciente erecto.
Reconheço que no fundo
É bom passar discreto.

Perturbações indiscretas
Não atingem nenhuns corações.
Atitudes correctas
Escondem mutáveis ejaculações.

Mas todos me olham
Confuso dispersando os meus seres.
Ofereço os caracteres
Ocultos que tudo molham
E não se desfolham?

Tu pensas que és
Não és

Tu pensas que sabes
Não cabes

Tu pontapeias
Magoas-te

Pontapeias com a mente
És gente


16-12-2007

LUZES DA SOLIDÃO

Um ímpeto irresistível
De ser algo inconcebível
Faz sair de mim ininteligível
Um encanto visível.

O som de um antigo violino
Seduzindo uma mulher imaculada
Como uma pomba no desatino
De poisar na altura errada.

Sai da discoteca hipócrita
Abafando ruído, os teus prantos.
E entrega-me os teus encantos
Na taberna gótica.
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Violador que se auto seduz,
O sol despe a escuridão
Como uma adaga de luz.
Formam-se nuvens negras e nos
Dão por vezes luzes da solidão.







15-12-2007

ESPERTOS

Vocês são tão espertos
Que desconhecem a demência.
Não sabem que a inteligência
É oculta dos gestos certos?

Vocês que regem países
Temam o povo roto e nu.
Vocês de rostos felizes
Não sabem que têm cara de cu?

Robots que falam de pedagogia
Têm curtos circuitos de hipocrisia.
Pedantes que espumam da boca porcaria,
Temam a poesia.

Vocês que são tão vulgares
Querem ser imortalizados.
Vocês que são tão vaidosos
São hermafroditas procriados?






13-12-2007

POEMA INCONTROLADO

Vejo o nascer da alva
Iluminando a minha cova.
Sou o que não sei que se ressalva
Em frente de uma real prova.

Tenho em mim escondido
Tanto ardor e carinho
Para dar a uma só mulher
Que me tem perdido
No seu conhecido caminho
De zelos a sofrer e arder
Embalando o seu adormecer.
Fui um condor na vaidade ferido.
Um irracional medicado.
Sou um predador domesticado.
Num decote de um vestido ousado
Sou um Zéfiro (1) controlado.

Podia despir a roupa mais discreta
Com um afrodisíaco descarado.
E provar a doçura mais concreta
Com um desdém leonino. (Se eu fosse incontrolado)




(1) Vento




10-12-2007

GRILHÃO

Adoro o espírito feminino,
Mas gostava de ser um Cid marroquino
Desconhecendo o que é ter o pé caprino.

Sou qual monge por vós vestido.
Não maldigo a vossa emancipação.
Só digo que continuam presas a algum Cupido do dinheiro.
Cervantes descreveu-as num futuro já cumprido.
No rio Estige banhou o coração.
Descreveu amor e um incrível guerreiro,
E não precisou de procriar para ter tal herdeiro.

Tardou a chegar a emancipação
Como tardava um escravo a ser forro.
Finalmente algumas mulheres livres são,
E neste pensamento as discorro:

Para algumas mulheres
Ser uma mulher emancipada
Ou ser uma puta descarada
Têm os mesmos caracteres.





9-12-2007

AMOR DE VAMPIRO

Dizem que não tenho amor.
Que estou enterrado e frio.
Acordei tão estranho, e rio,
Porque nunca senti tanto calor.

A ti, Afrodite que idolatrei
Magra, de pele branca e cabelo negro.
Dou-te olhares sinceros que de ti retirei…
Sendo tão triste por um momento alegro
Melancólica lua que em duas requebro.

Se no rio Estige pudesse mergulhar
E para o mundo humano depois voltasse,
Talvez nem Afrodite escapasse
A este tão bizarro amar.

Não tenhas medo de mim…
Todos me estranham,
Talvez porque já não me iludo.
Só por ti…






9-12-2007

UM POETA EM MIL

Sim, eu não consigo
Parar de brincar com a língua.
É portuguesa de falso abrigo.
Sedutora que me deixa à míngua.

Versos de conveniência
Não fazem sentido para mim.
Nem versejar com eloquência
Celebridades que se dizem assim.

Procuro amor sempre mais verdadeiro.
Tenho na mente feminil obsessão,
Continuando aberto o doente coração,
Mas nunca para o romantismo do dinheiro.

Detesto sons bruscos, e a moralidade reescrita.
Mas sei que os donos do mundo são ainda mais ignóbeis.
Podem me ver nesta sociedade voraz e consumista.
Mas nunca ambicionei nenhum género de automóveis
E só, acho o amor contrário aos telemóveis.

Não quero velhas ou novas religiões
Nem quando estiver doente ou senil.
Não cegam as pequenas ilusões
Um poeta em mil.





8-12-2007

VOLTA

Dou em mim voltas, voltas e voltas
E só sei que tu és a tal.
Mil estrelas estão em ti envoltas
E nenhuma me diz se me queres bem ou mal.

Não empobreces nem soltas
Os sentimentos mais nobres.
Enamorados pobres
Enleiam-se nas tuas voltas.

No tempo volta atrás
E vê-me tropeçando no teu caminho.
Regressa ao tempo que te apraz
Esquecendo-te de mim sozinho.








8-12-2007

NINGUÉM

O amor solitário vem…
Penso em alguém
Que será ninguém?
Se amor não tem.
Outro fantasma, também.

A musa ausente contém
Novos poemas doridos,
Velhos afectos feridos,
Outro fantasma, também.

O álcool deixou de me amar…
Assim também lhe retribui.
Só a minha saúde destruí
Querendo lento me matar.

O álcool, a musa, a poesia, meu bem…
Outro fantasma, também.









2-12-2007

ANTISOCIAL

Isto não é ser social?


Uma besta conscientemente
Calma e enjaulada,
Espera calmamente
Pelo beijo da princesa amada.

Uma nova seita inconsciente de si
Pede que TIREM ESSE ESQUIZO DAQUI,
Porque o amor que ele recebeu
Foi da solidão com quem viveu.

E às vezes incógnito no breu
Vejo uma nova constelação no céu
Que só a mim se dá a conhecer.
Iluminando no breu que me escondeu
Um passo de deusa que o nada fez estremecer…

E às vezes como um animal
Tenho um dialecto transcendental
Com um Minotauro racional
Que me eleva ao Nirvana anti social.









29-11-2007

REFÚGIO NO «MAU» TEMPOEstou de luto por mim. No tempo de sol que me entristece Sou a bruma que só aparece Para a musa que não é assim. Quisera acredi

Estou de luto por mim.
No tempo de sol que me entristece
Sou a bruma que só aparece
Para a musa que não é assim.

Quisera acreditar no fim.
Mas sou psíquico e sonhador…
De Deus quisera castigo e dor,
Mas por uma mortal do Inferno vim.

Podem pensar que não resisto
Às tentações da comum terra.
Mas aos sentimentos que o meu peito encerra
Admito que digam que não posso ser isto.

Se todos pensam que sou
Espécie de esquizo vampiro frio…
Não sonham que num amor frenético,
Um calafrio
Eterno o meu corpo evaporou…







2-12-2007

PROA

Sofia, sempre tão bela
Caminhando com tanta proa
Por essa sinistra viela
Um dia, algum tarado
Te abalroa.







10-6-2009

MORTO OUTRA VEZ

Quando o poeta morre
A sua poesia tem mais vida.
Musa esguia e esquiva…
Tesouro que corre
E assim desconhece a ferida
Que chama por uma chama viva.

Só tenho amor
Por quem sou desprezado.
Quisera sentir a dor
De ser maltratado.

Esconde a morte o meu vestuário
Colorindo os desenganos.
Ardentes olhos são afinal enganos
Que queimavam o sedentário.

Estive uma década morto
Submerso em azeite quente e pez.
Acordei, avistando num porto
Os teus cândidos e lindos pés.
Agarrei-os derreado e torto.
E por eles imaginei a tua altivez.
E com o peso e o desconforto
Pisaste quem não vês
Que prefere ser um vivo aborto
Do que morto outra vez?...






26-11-2007

NÃO SER NO TEU SER…EXISTO…

Esta noite vou-me confessar…
Sentimentos vão escapar
Como a minha musa a nadar
Longe da confissão que me está a afogar.

Só porque me confessei
A quem quero bem que nunca terei.
Querendo voar, no chão me espalhei,
E sinto que a assustei.

Só porque existo.
Só porque não resisto
A um sentimento talvez imprevisto
Vão me dizer que não posso ser isto?...

Âmago vazio, porque não és misto?
A pura poesia é revolucionária.
A musa aos meus afectos contrária.
Não ser no teu ser…existo…







26-11-2007

ABISMOS DO TEMPO

Em novos tempos
Colhi abismos do tempo.

Parecias em novos tempos
Uma linda novidade
Que eu desconhecia.
Parecia pelo teu interesse
Que te ia amar sem sofrer.
Peguei-te nas brancas mãos
E fechaste os olhos de prazer.
Não te consegui beijar,
Talvez por não te querer usar.
Não se deve colher uma margarida
De uma silveira agreste,
Porque lá será mais querida
E estará mais bem protegida.

Mas tu, margarida,
Soltas-te sozinha
E segura no vento
Apaixonado por ti,
Leva-lo em todas as direcções…
Queres todos os corações.

E voltas sempre, margarida
Para a segurança
Da silveira agreste.



Em novos tempos
Colhi abismos do tempo.




17-11-2007

SAUDAÇÕES AO MAR

Oh, mar renovador!...
Estarás hoje poluído?...
Enxota com as tuas ondas o pútrido
Humano da tua poluição causador.

A tua calma estranha murmura…
A espaços o reflectido ameno céu
Despe sobre ti um sombrio véu
Que cai como a noite mais escura.

Amedrontas o «velho pescador»
Descrito na perfeição da dor.
Vingas-te do povo conquistador
Conquistando terra e impondo cor.

Saúdo-te mar, porém, mais sossegado.
No esplendor da bruma,
Renovando sempre espuma
Como o amante mais desejado.




«O velho e o mar»








14-11-2007

LOUVAR

Na Inca antiguidade
O divino era louvado
Por drogas o ouro mais dourado.
E o homem sentia-se mais perto da divindade.
Sacrifícios humanos por temor
Eram sacrificados de pouca importância.
Observava o voo alto do condor
A carne abandonada com significância.
Depois surgiu o Deus cristão.
Um só Deus como utopia,
Perdoando ao deus pagão
E cultivando a fome e hipocrisia.
Deuses deixaram-se de louvar.
Pratica-se o Sado masoquismo.
Admiram-se com o canibalismo
Como uma religião a despontar…
Louvar e temer é da humanidade próprio.
Charlie Manson ou Jesus Cristo?
Qual o maior criminoso visto?...
Quem ao mundo trouxe o ópio?...
Quem merecia o nariz do Pinóquio?...





11-11-2007

AMOR

Se for amor
Será doença.
Só tenho calor
E a tua descrença

Entrou sem licença?...
Um olhar sedutor
De uma divina flor
Que é hoje mortal indiferença.

Se estou doente
É porque te olhei.
E no tempo parei,
Porque te vi contente.

No deserto da mente
Vive uma serpente
Que ao coração imprudente
Dá uma maçã doente.

Platónico e revoltado
Estou solto da razão.
Sou presa do coração
Que bate incontrolado.







10-11-2007

NÃO VIVO

Estou mais vivo
Por estar a enlouquecer?...
Ou inconsciente sobrevivo,
Se de tudo me esquecer?...


Afrodite, estou a sofrer
Por amar essencial o teu ser.
Estou a morrer por viver
Só, e não amado…não te devia dizer.

O meu peito é o arquivo
De ilusões e males sentidos.
Guardo em mim sentimentos perdidos…
E para o mundo estarei «não vivo».









8-11-2007

AMO-TE…PORÉM, HUMILHADO…

Amo como quem sobeja
E se repete consciente.
Amo quem aparentemente
Me deseja e nunca fraqueja.

O meu peito violentamente arde…
Amante escravizado
Que se tortura até tarde…
Amante que não é amado.
E assim te amo de verdade.

Afrodite morena, por ti
Tão alto me fingi.
Queda dolorosa senti.
O meu orgulho quase perdi,
Por te amar puro e tão doente.
As tuas qualidades não esqueci,
Porque te vi transparente.

Não foram só palavras que me magoaram.
Foi o tom com que se soltaram,
E os gestos que me humilharam.
As prioridades com que me alvejaste.
A altivez com que esmagaste
Segredos que a contar não chegaste.






2-11-2007

FOME

Certa é a paixão
De que tenho fome.
Iguaria é a ilusão
Que me come.

Certa é a fadiga
Do cérebro a pensar,
Porque razão a minha barriga
Está com sinos a ecoar.

Certo é que a distância
Da motorizada que não quer pegar,
Acompanha o meu estômago na ressonância
Querendo me intimidar.

Certo, serena musa
É que te quero devorar.
E do que o mundo usa e abusa
Estou a pensar, mas não lhe quero tocar





6-11-2007
Bocage, Van Gohg, Cervantes, Pessoa, Shakespeare, Mozart, Jim Morrison, Dumas, Bram Stocker, Allan Poe,
Vocês têm visto o sol?...
A arte consome o verdadeiro artista.
Eu vi-te morto.
Segue o teu caminho.
Inventa o dia.

JOVEM VAZIO

Jovem vadio,
Porque não és frio
Sentes o calafrio
De um cerco gentio.

O teu refúgio
Evapora-te do mundo.
Do teu subterfúgio
Vapores saem num verso imundo.

Jovem vadio
A verde idade era tão bela,
E o teu coração disse-lhe adeus.
És adulto meloso e ímpio,
Porque ela faz-te vir…até ela.
Ela é o teu Deus.
E o que lhe fizeste,
E como a adoraste,
E como te evaporaste,
Jovem vazio?...





31-10-2007

DAMA VENAL

Vénus mortal…princesa venal…
Quero os teus favores carnais.
Quero em ti dispersar o mal
Extravagante de amores espirituais.

Quero soltar o meu lado animal
E chicotear escravizados sinais.
Quero ser um amante imortal
E levar-te além de frouxos ais.

Quero que me tires medos
Sem revelares segredos.
Quero acariciar-te com os dedos
E viver linguados enredos.

Sei que só farás por dinheiro
Uma inesquecível festa.
Mas nenhuma amante honesta
Exprime amor verdadeiro
Sem uma ideia desonesta.

Vindo de um erro fatal,
Quero te amar, dama venal.







28-10-2007

SUICIDIO

A minha juventude evaporou-se.
Só agora estou a perceber.
O meu aguardado magoado amor guardou-se
Para de mágoas aos poucos se perder.

O meu amor era obcecado e doente.
Não me amando, amava-te a ti…mais ninguém.
Sonhava-te pura e ausente.
E como dama venal também.

Por mais que a mente distorça
Do peito tamanha amargura,
Não entende a minha loucura
Que não se deve amar com tanta força.




27-10-2007

BELEZA

Oh, meu inimigo sol…
Proferiste o meu caminho escondido
Na noite?...estarei proferido
Por ti debaixo do meu lençol?...

Não quero a tua claridade,
Apolo dos limitados.
Quero de Vénus a proximidade
Com Plutão e os deuses irritados.

Com a chuva e a neblina acasalaste
E assim pariste-me na natureza.
E para haver, enfim beleza,
A bem ou mal tem de existir contraste.





26-10-2007

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Não gosto de ter esquizofrenia
Não consigo interiorizar filosofia.
Não creio no âmago da teologia.
E de mim, por vezes foge a poesia.

A minha poesia tornou-se sincera
E eu tornei-me um falso poeta.
A minha mente é habitação de Megera
E o meu coração envenenado cometa…

A ti, musa diferente
Que dás verso à poesia.
Que caminhas sempre em frente
Apoiada na filosofia
Desconheces a minha vã teologia
Que já ignoro como brutal heresia.

Que diferença faz dizer
Que foi Abel quem matou Caim?
Se nos extremos está Lúcifer
E nos extremamos assim?

Que estranha confidência
Te poderia desvendar,
Se te estou a venerar
Por mandares na coincidência!

22-2-2008

"Na psiquiatria interna entre Março e Abril de 2008"

(Saraus de psiquiatria interna)

Na psiquiatria interna por ser esquizofrénico, alcoólico e abusar da medicação estive internado quase um mês. Estive a soro e passei dois dias sem dormir. E tudo o que eu ingeria vomitava ao ponto de os meus olhos quase se tocarem um no outro. Afinal sobrevivi, porque me deram a antiga medicação em doses menores. Conheci um paciente que me disse: - Ia no meu carro a 390 km hora, meti o nitro e arrebentou-me a cabeça. Deram-me no peito e na cabeça 100 tiros de caçadeira de caçar elefantes, e agora vou fumar um cigarro para dar o sentimento, entendes?... E tinha conversas transcendentais com um esquizofrénico que disse: - Primeiro dou um murro ao polícia e abro-lhe a cabeça. Depois só com os dois dedos esmigalho-lhe o cérebro de modo a ficar mole para dar de comer à minha cadela que já é velha e tem os dentes moles e podem-se partir. Depois chegou outro esquizofrénico que era agressivo e dominava uma arte marcial e tinha mandado um caldo de heroína para fora. No primeiro dia chorou, mas nos dias seguintes já intimidava psiquiatras, enfermeiros e pacientes. Fiz amizades com tipos que estavam com esgotamentos nervosos, depressões, tentativas de suicídio. E nos dois primeiros dias um obsessivo compulsivo disse: - Ai, este rapaz, que morte horrível. E dizia isto chorando…


14-10-2008

Animal racional

A lua cheia enrouquece-te
Lobo vazio
Só com cio
De matar
A tua mulher
Que está a acasalar
Com um racional
Militar
Para te manter
Animal

O teu corpo apodrece
Digerindo 50 graus de álcool
Chamas nomes ao sol
Que o teu corpo estremece

Na velha gruta
Jogas na disputa
Ainda dás luta
Pela tua puta

És racional
Com o coração
És animal
Com toda a razão



Na tua morte
Sabes que vais deixar ossos e pó
Comida e carne envenenada
Abandonada à sorte vai ser devorada sem dó
Pela prole degenerada

Revolto
Velho cão
Solto do umbilical
Cordão
Afinal

7-6-2007

Afectuosamente

Não tive arte suficiente para criar o livro em branco.
Acabo de cair de onde acabo de sair…
Ninguém ama como eu.
Pobre cavaleiro lutando por uma princesa imaginária.
E talvez doces olhos me olhando,
Amados no mundo que vou ignorando.
Dom Quixote do terceiro milénio.
Pobre vampiro estacado
Por uma mulher inteligente, independente, atraente e doce?
Qual é no mundo a tua posse,
Anjo caindo emborrachado?
Que dama querias tu que ela fosse?
Inês de Castro morrendo por amor?
Joana D´ arc amando o seu senhor?
Só as artes de confusos sentimentos
Podem explicar escondidos sentimentos.
Só tenho fome, só tenho dor
E amor é ainda menos indolor
De mil xadrezes pensamentos.
Sei que nada sei, e como o sei?
No entanto sou?
Um esfomeado tubarão que o mar devorou…
Talvez um afável golfinho que deu à costa
E entre humanos se criou
De poesia e de bosta
De que se alimentou,
E por um túnel se evaporou.
13-3-2007
Caminho na noite chuvosa
E só me presencia a lua cheia.
Onde estará mulher tão formosa
Sem um segundo me reter na ideia?

O seu singular penteado
Negro cabelo
Faz do luar prateado
Um olhar triste, mendigado
Por ser tão belo não poder sê-lo.
O seu olhar é por vezes singelo
Quando não descaradamente desejado.
Misterioso céu estrelado,
Ah! Quem me dera descrevê-lo…
Momento que por vê-lo
O sol ficaria eclipsado.

Displicente por agreste caminho
Me persegue a lua
Como a tua pele nua.
E tão alta e tão baixinho
Não te posso dar carinho.

Sinto que és moderna e prática,
Assim a tua imagem evidencia.
Por isso, perdoa-me se for apática
Não sei se nova ou velha poesia.



Presente em mim a tua formosura
Agarraste mutável textura.
Um olhar de misteriosa doçura,
Lábios como a seda mais pura
Aveludam a minha amargura.

Perdoa-me a ousadia,
Mas nesta noite chuvosa
A tua imagem luminosa,
É contraste… pura poesia.

18-3-2008

Rui Sousa

"ANGÚSTIA?"

O amor sem fim
Que tenho em mim
No rio Estige se forjou.
No mesmo instante o rio secou.
Sufocada revolta, um frenesim
Dá em mim o que não dou.

Se eu tenho falsas fés,
Se abomino o mundo como ele é,
Se em nenhuma religião te vês,
Terás medo de morrer sem fé?

Se continuo a ser
Nenhuma espécie de gente.
Se morri sem ninguém perceber
Serei um sobrevivente?
………………….
Na tua intuição
Os meus olhos nos teus olhos
Não te atingem o coração
E despem-te os folhos.

Sinto por ti paixão
Que já não posso negar.
Vejo-te como uma visão
No meu deserto e uma sereia no mar.

Faz de mim o que desconheço
10-12-2007

Sofia

Sofia,
Há um demónio atrás da tua porta…
E tem um corpo viscoso e imundo.
E uma cara medonha e torta
E é corrompido como o mundo.

Há um demónio no teu chão,
E ele ergue-se como um espantalho.
E diz num cortante ralho
Que é do teu coração.

E ele bebe, vomita e fede
Da humana teologia.
E ele é roto, meio nu e pede
Que o cubras de filosofia.

E ele é alto
E de juízo falto.
E é sujo
E diz num rujo
Que escreve poesia
E quer para sua noiva a Sofia

31-1-2009
Rui Alexandre Sousa

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"FANTASPAMPILHOSA"

Sou um homem belo
Com algum talento?
E para beatos de fingimento
A sua coscuvilhice revelo.

Velhas sujas,
Diurnas corujas
Que em vidas alheias
Tecem teias.

Filhas donzelas criaram
Para se casarem puras,
Singelas e não astutas.
Já parideiras se separaram
Sentindo todas as vergalhadas duras
Contam-se agora no rol das putas.

Velhos remendados pelo dinheiro
Querem cortar as raízes da moda
E chamam a qualquer jovem drogado.
Velhos mochos piando no poleiro
Onde galinhas velhas lhe fizeram a poda,
Tomam antibiótico com vinho misturado.

Habitada por gente duvidosa,
És também sossegada e formosa,
Oh, FantasPampilhosa.
5-6-2008

"Os meus olhos"

Os meus olhos alteram de cor,
Consoante a natureza que me rodeia…
Os meus olhos conhecem o amor
Sofrido e nunca mostram uma cor feia.

Por vezes são azuis como o céu espelhado no mar,
Procurando algo que já me encontrou.
Verdes, por vezes de ciumento amar
Sereia instável que no meu coração nadou…
Muitas vezes cinzentos, nunca cansados de olhar
O invernal tempo que a mente confortou.

Os teus olhos são lindos, dizem belas
Angelicais com expressões singelas.
Que lindos olhos, dizem aquelas
Que me morderiam dentro de sacras capelas…
Os teus olhos mudam…dizem todas elas…
E eu só te vejo a ti, que os meus olhos desvelas…


6-12-2006

"Miragem de Dezembro"

Melancólica e fria, a chuva se mostrava
Ao espectro que a sua sepultura cavava…
Nasci no instável mês de Setembro,
Amando a paisagem de Dezembro.
Abrindo a boca para o céu,
A chuva me dava molhados beijos…
Fechando e abrindo os meus olhos de ateu
Repentinamente vejo
Uma mulher misteriosa
Desaparecendo numa estrada vertiginosa…
Seria uma miragem?...
O seu longo cabelo negro luzidio
Continha forças para me enforcar.
Tentava esconder libertinagem
Um vestido branco apertando o corpo esguio
De se casar e o mundo a se enamorar…
Desprezando o chão caminhava para um desvio
Que eu seguia nítido como o luar.
O seu olhar ardente derrete o frio
Como o repentino sol que me vem ofuscar…

Eras estável continuidade da palavra beleza…
Temperamento instável como a temperatura portuguesa?...





6-12-2006

"Confissão à natureza"

Confesso que gosto de sentir a natureza
E de ver a natureza humana
Amaldiçoando chuva intensa pelo vento forte enlaçada…
Vejo a urbana rudeza
E de ser tão rude me ufana.
Amo a contracção do céu…infernal chuva pela tua vulva aspirada:

Confissão

Perdoa-me, porque confessarei,
Criatura mortal do meu desterro…
Não tive as mulheres que desejei.
Não te tive…e amei…
Cientistas do coração forjaram o ferro.
Para longe voei…
Ferrugento, morrerei.
Pesadamente aterro…

Não sei porque te comecei a amar…
Tens uma beleza invulgar,
Mas tens ambições vulgares.
Talvez sentisse vontade de me escravizar.
Assim como roubaram a liberdade do luar,
Roubaram-me afectos, o teu olhar…






5-12-2006
Militar graduado, ou militar graduada,
Embora o sexo apeteça,
Serás sempre limitado da cabeça
De cornos ilimitada…







5-12-2006
Guerreiros latinos e gregos marcam posições…
Dulcineia e Helena não contêm comichões…


Não querendo exceder a constância de D. Quixote
Perguntava com ardor um ancião de vida pacata:
Alguma dama de honor
Quer dar a rata
Para tirar o bolor
Do queijo do velhote?




4-12-2006

"O romantismo morreu"

Estou no meio da estrada…
Só quero sobreviver a mais uma alvorada…

Toda a noite observei a lua,
Rodeada de traços de alguém
Que já não sei quem.
A lua me insinua
Que é uma mulher nua,
Que foi desflorada sem amar ninguém.

Já não estou no meio da estrada…
Sobrevivi a mais uma alvorada.

O sol rapidamente iluminou,
Para quem assim o viveu.
O surrealismo reinou…
O romantismo morreu.






3-12-2006

"Mais uma vez"

E mais uma vez,
Preferi ficar longe de vocês,
Meus amigos…
E mais uma vez,
Senti as ferraduras dos pés,
Dos novos e dos antigos.
E uma única vez,
Imaginei a murros e pontapés,
O sapatear e o bailar dos meus inimigos.

E ao invés
De sentir o teu carinho,
Senti o revés
De SOFRER baixinho?...







3-12-2006
Nunca provei remédio
Que me não soubesse a tédio.

Sempre existiu o romantismo,
Mas vive-se de dinheiro.
Tenho expressões de cavalheirismo
E tenho limitações de escudeiro.
Ah! E se eu fosse um galante cavaleiro
Derretendo o gelo de um coração frio?
Nada…nem em mim confio.
Sou um poeta que nasceu escudeiro…
Serei de venal dama cavalo e cavaleiro,
Tísico mental, e físico doentio…





3-12-2006
Já não seduzido pelo amor.
Já a verde idade
A desbotar a cor…
A idade devia ser incolor,
Para confusão da humanidade.
Este momento sedutor
É persuadido por obscura divindade.
A mentira não é indolor,
Porque fere, e sai do ventre da cidade.
Não sei se fui escravo ou senhor
Noutro século, na mesma sociedade.
Neste momento, a única verdade
É a dor.






2-12-2006

"Mapa"

Visto somente a minha sombria capa
Para esconder ardores e não chamar preconceitos.
Tenho numa mão um mapa
De escondidos caminhos estreitos.
A outra mão esguia escapa,
E sente a textura de uma vagina no mapa.





1-12-2006

"Jeremiada"

Sou cristão, porque fui baptizado
Num momento que não pôde ser por mim evitado?

Sou como um discreto pagão
Que entre cristãos existo.
A minha mente é habitação
De mulheres nuas, às quais não resisto.
O meu peito é a inflamação
De um sentimento que não quer ser visto.

No fundo serei um vampiro cristão
Que é mordido por Jesus Cristo?...

É muito feio ironizar
Contra quem dá o sol e o luar…






1-12-2006

"Mente de cacto"

A vista baça,
Os braços rendidos
Na velha vidraça
Ampla de sentidos.

Na minha mente tenho espectadores
Aplaudindo físicas dores.
Agora que consigo viver sem álcool
Ainda não consegui compreender o sol.
Os vencedores nascerão perdedores…

No teu jardim
Do mais suave olfacto,
Pecaminoso o tacto
Que não toca em mim.
Tenho a aspereza de um cacto
E dou-te água sem fim.





30-11-2006

"Natural sedução"

Não cansa a distância
De onde para ti me encaminho.
Assim tivesse o mundo tolerância
De não me deixar sozinho.
Sonho que és constância
De ardor e carinho.
Do teu sorriso a sóbria elegância
Pode alterar o meu ébrio caminho.

Cabelo negro, pele branca.
Rivalizas com o luar…
Temo, ( emoção franca )
Se não reflectes os teus olhos no meu olhar.

Creio que os sinais no teu rosto
Para mim tão exóticos como amados,
São sepulcros por gosto,
Dos teus enamorados.

Deixas-me indeciso,
Mas não de melhorar.
Quando soltas um sorriso,
Levas-me o destino no teu olhar…



29-11-2006
Estou hipertenso.
Tremo como incenso
Num vento intenso.
Escrevo e não penso…

Iria piorar neste momento não pensar?...








28-11-2006
Nós…EU, que tão caro custo ao estado,
Que amo e sou maltratado,
Que de fantasmas rodeado,
Serei sempre um inadaptado.









27-11-2006
Morte…leva-me de caravela
À descoberta de longínqua terra,
Onde se escondem feições daquela,
Semeando velha guerra.







27-11-2006

"Lógico"

A medicina e a ciência
Podaram e cortaram a mais bela flor.
Ainda não saberão que a consciência
É a verdadeira dor?

Animal e vegetal.
Impõe-se humano critério…
O mais racional
Seria nascer no cemitério…




26-11-2006
Começo por ter grandiosos tormentos
Que acabam em medíocres pensamentos.

Na minha vida sedentária,
Sinto-me um grande guerreiro grego
Ardendo no sossego
De uma pia funerária.

Quanto mais da vida me esquecer,
Do corpo esquelético já sem torpor,
Da cadavérica fronte,
Quando, enfim, miserável morrer,
Pedirei dois cêntimos, por favor
Que me ponham nos olhos para dar a Caronte.
Também queria um pacote de cigarros levar
Para na viagem não me entediar…




19-11-2006

"Lembra-te"

Lembra-te do que eu costumava ser
Depois do primeiro olhar que trocámos.
Como dois deuses desprezámos
Um amor sincero a florescer.

Lembra-te que só o nosso amor não vai morrer
Quando o mundo de nós se esquecer.
Quando o mundo esquecido ri,
Sozinho lembro-me de ti…

Sem saber de onde vim,
Só existindo assim,
Quando a minha vida chegar ao fim,
Lembra-te de…
Só um grande amor transcende o tempo.



19-11-2006

"Alegria"

Alegria…chove como há muito não chovia…
Escuto-a regalado no meu quarto,
Mas quero da chuva sentir o parto
De donzelas de pejo e magia…








17-11-2006
Sejam pequenas ou grandes festas,
Nunca em grandiosidade são honestas.

Circunstância viciosa e feia,
Comendo e bebendo, como mão alheia…

Sejam pequenas ou grandes festas,
Nunca igualarão as áridas florestas…




16-11-2006
Parem de fazer barulho.
Parem de indignar
O sangue da uva.

Calem-se…como futuro entulho…
Quero escutar
A sabedoria da chuva.





15-11-2006

"Não basta"

Digo
A mim mesmo que não quero sonhar,
Que nunca mais quero amar,
E continuo a ter
Sonhos que acabo por escolher.

Não basta dizer que estou farto
De não ter uma jovem viúva
A prantear como a chuva
Que escuto nas telhas do meu quarto?...

Basta
A pedra que não gasta
Como sentimentos
Que a solidão arrasta.
Femininos cruzamentos
De despistes e tormentos,
Basta.
Não basta…




15-11-2006
Tenho no coração uma ruga.
Tenho no cérebro uma verruga.
Não tenho medo de ter razão?
Na inequívoca escuridão
Vou tentar a minha fuga.

Tentando lembrar-me que refiz
Coisas que nunca fiz,
Por momentos esqueço que te ris
Agora que sou infeliz.

No desasossego acabo por ter sossego.
Vencido o frenesim
Que por vezes vive em mim.
Amo como um Deus cego.




14-11-2006

"Perder a humanidade"

Sozinho estou, não estranhando movimentos
De humanos escondidos no álcool…
Brilhante o sol,
Cegando os pensamentos…

Sozinho estou,
Perdendo algo que nunca tive.
Acompanhado vou
Para onde nada me vive.
Acompanhado vou…
Como se alguém me quisesse…
E penso que algo sou,
Como se eu a esquecesse…
Sozinho ficou…
Como se as coisas mudassem,
Como se poemas novos respirassem
Humanidade…

Venham dourá-la,
Venham apreciar
Obscura sociedade.
Vamos soltá-la,
Vamos deixá-la escapar…
Vamos perder a humanidade…



13-11-2006

"Velhos poemas"

Estou a tentar esquecer velhos poemas
Que ultrapassavam dilemas.
Poemas velhos com certo carisma,
Qual Cervantes entre a mourisma.

Poemas de velhos laços,
Só rasgados em futuros espaços.
Macilentos, pesados abraços
Demorando mimosos pés descalços.

Desejo rasgar
Antigos ardores,
Mas continuo a amar
Impossíveis amores.

Sinto que continuo a escrever
Velhos poemas,
Floridos dilemas,
Sem ninguém para os ler.



12-11-2006

"Os mortos"

Vêm por ribeiras de caminhos tortos,
Por pais pouco abastados,
Ou pelos familiares desprezados,
Desaguar a obscuros portos.

São seres estranhos
Do dia, na noite rápida aniquilam-se.
Em buracos de álcool socializam-se,
Ficando por dentro castanhos,
Brancos ou vermelhos no rosto…marginalizam-se.

Não gostam dos seus semelhantes,
Mas comunicam tísicos com obesos,
E quando pelo álcool ficam acesos,
Escurecem olhos e semblantes.

Vêm os ricos pela estrada
Da ribeira subindo, e viajando dos portos.
Acenam e ninguém diz nada.
Até outro dia, mortos.

E agora, leitor, julgareis o que é mais decente,
Se ser do mundo bêbedo, se de tal gente…








11-11-06

"Retornado"

Quando vi a luz, tudo me esqueceu, tudo escureceu…
Nasci no Porto…em Portugal,
Do continente Europeu
O país mais ocidental.
No Porto, pobre cresci…
Com dois irmãos, duas irmãs
E uma mãe que muito me amou.
De quimeras e aparências me ressenti.
Do cimo da ponte via o sol dourar no rio todas as manhãs,
Tentando esconder a noite cinzenta que sempre me encontrou…
De trabalho, por vezes pesado sobrevivi.
Da escola da vida me fiz doutor,
O meu pai sempre me desprezou.
A minha inocência acabou…
A minha mãe que sempre trabalhou
Trabalhava agora como cozinheira,
Porque o meu pai viajou
Sedento de vida aventureira.
Os tempos eram de ditadura
E eu ambicionava a liberdade.
A minha mãe chorava…olhos de cebola…
Resolvemos todos fazer envergadura
Em verde idade,
E ir ter com o nosso pai a Angola,
Que já sentia nova mocidade.




















Embarcamos e chegamos
Ao nosso pai com facilidade,
Porque naquele tempo leis eram respeitadas.
Senti-me absorto de felicidade,
Sonhadas imagens concretizadas.
Os dias grandes, o sol desaparecendo
Devagar na planície horizontal…
O mar morno arrefecendo
A natureza que me parecia irreal.
Empreguei-me rapidamente,
Porque já era um homem
Trabalhando contente
No calor húmido constante.
Peixe, carne, frutas exóticas que tão bem se comem.
No fim do trabalho
Tinha liberdade para enamorar
Mulheres que se equiparavam
A deusas de pouco agasalho,
Sereias ao descoberto no mar,
Diferentes mulheres, então comunicavam…
Durante anos por este lema me guiava,
Mas o meu coração, outros afectos desejava.
Um dia, ao por do sol vi angelical mulher
Na janela de sua casa espairecendo.
Mas o tempo aos poucos escurecendo
Impediu-a de me ver…
























Fiquei acordado a noite inteira,
Ansiando o despertar do dia.
Era ela a pioneira,
Donzela de magia.
Seguidos dias olhava
Para ela que se mostrava um pouco
Na janela onde estava sentida.
Ela olhava para mim e corava,
E eu ficava louco,
Tinha encontrado a mulher da minha vida.
Mas a guerra que mata e que nunca morre
Chamou-me para a guerra colonial,
Para defender o império de Portugal,
Isto na minha cabeça discorre…
Apesar de não gostar
Assentei praça, tive de me conformar.
E fui « louvado pelo Ex Mo Comdt do B.I.A, por proposta do comandante do pelotão de mobilização, porque durante os dezasseis meses que prestou serviço a seu cargo, demonstrando possuir uma noção exacta dos deveres militares. Militar educado e muito disciplinado nunca se poupou a esforço para que o serviço de que estava encarregado se mantivesse sempre em dia, qualidades que muito o recomendam e o tornaram digno de ser apontado como exemplo a seguir pelos seus camaradas, ( O-S. 157 de 6 de Julho 72 B.I.A ) » .



























Os horrores da guerra estão na minha mente,
Mas não os quero descrever.
O meu coração descreve rapidamente
Aquela mulher que quero ter.
Um dia deu-se o 25 de Abril,
Promessa do fim da guerra.
Voltei para a sonhada terra,
Deslumbre de um rosto gentil.
Diziam os anciões
Que guerras ainda agora começaram.
Diziam que tempestades e tufões
Nesta terra despertaram.
Passado um ano, efectivamente
Tivemos de ir embora
Ameaçados de morte.
Tudo acontece velozmente,
Uma negra carpideira
Deseja-nos boa sorte…
Embarcamos à pressa em barcos e aviões
Atolados como gado.
Marcados com invisíveis farpões,
O português fado…































Para trás ficaram bens materiais, mas não sentimentos,
Vagando pela lembrança,
Tinha a remota esperança
De não encontrar mais tormentos.

Chego sem nada que sensibilize Portugal
E entusiastas revolucionários
Que viveram da ditadura o mal,
Querem me cobrar pensamentos solitários…

E até os mais simplórios
Que não sabem bem o que mudou,
Nem imaginam o que comigo se passou,
Cospem palavra consentida…
Escuto já não espantado:
Retornado…
Mas tudo aceitarei,
Porque um dia voltarei…





11-11-2006
Um homem no coração de África entrega o seu…
Rapidamente pela cabeça lhe passam como um sonho
Os momentos mais marcantes da sua vida.
O primeiro pensamento que lhe irrompeu:
No mundo medonho morro risonho,
Tive uma vida intensamente vivida,
No meu coração quem manda?
Ah! Antigo espírito aventureiro,
Ajudei em tempos idos a fazer de Luanda
Mais aprazível cidade do que o Rio de Janeiro.
Ainda conheço antigos trilhos.
Olhos pretos que me matam de prazeres,
Fui amante, tive variadas mulheres,
Gerei filhas, recusei filhos.
Arrependo-me,
Por quem?...
Porém
Lembro-me…

"Génio morto"

Horas mortas, absurdo
O movimento.
Sou como um surdo
Apreciando forte vento.
Tenho loucas ideias
Que não consigo passar para o papel,
Imagens feias
Que transformariam doce mel.
Amo angelicalmente
Alguém que há muito me esqueceu.
Desprezo diabolicamente
Um anjo que me acolheu.
Adoro a chuva, o som
Que congela frio.
Sinto que seria bom
Afogar-me na foz do rio.

10-11-2006
Minha vida de viver ressentida
No dia, um dia amaste tanto a luz…
No escuro existe algo que em mim reluz,
E a noite torna-se uma porta sem saída.





2003

"Estranha"

Ela vive numa rua escondida
Por flores e arvoredo.
Ela é a essência da minha vida.
O seu perfume faz-me revelar o segredo…


Quando passo perto da sua casa à noite
Quero chamar alto pelo seu nome:
Questiono-me se ela dorme,
Se na sua preenchida vida me afoite.


Não sei dos seus olhos a cor
Que olham o mundo do cimo de uma montanha.
Sinto que ela desconhece o amor,
Porque me conhece com atitude estranha…


Eu sei que vives na rua escondida
De uma criatura nocturna
Que em parte sou eu…
Eu sei que questionas a vida
Como uma criatura diurna
Que certa parte escureceu…






10-11-06

"Locomotiva fora de controlo"

Estavam velhos comboios abandonados
Na estação…podres carruagens.
Entravam pelos vidros meio partidos frias aragens,
Arrefecendo os bancos rotos, onde se deitavam vadios da vida cansados.


O tempo estava tempestuoso,
Outros comboios se ouviam correndo distanciados…
Levando mundos vagarosos
Para universo tenebroso,
Onde veículos pela televisão ilustrados
Eram conduzidos por humanos duvidosos.


Um relâmpago atinge subitamente
Fios eléctricos paralisando
Os rápidos comboios, e despertando
A velha locomotiva que ecoa novamente,
Por mundos civilizados,
Pela Europa e por países apartados
Pela guerra e pela fome.
Resgatando à potência que tudo engole
Alimento para quem não come,
A locomotiva continua fora de controle…






10-11-06

"Velha poesia"

Chuva fria salpicando o momento.
Momento quente, enfurecido vento,
Como nocturna alegria de irreal sinfonia
Pairando no horizonte negro.



Desejo este frio, este tempo que congela o movimento
Ósseo e a carne sempre quente…tormento
Negro, reescrita velha poesia,
Com que sempre me alegro…





6-11-2006

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Vejo o nascer do sol na estação de comboios.
Junta-se a isolada população,
Abrindo guarda chuvas, porque continuamente chove.
Sons mecânicos calam Arroios.
Tudo me atinge, como bilhetes marcados de frustração.
Estou na chuva, e sou o que nada move.

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Vejo mulheres da chuva agasalhadas,
Que me parecem mais improváveis e bonitas,
E olho-as nos olhos, porque continuamente chove.
Ouço como mudança de tempo, fúteis gargalhadas…
E calada sempre vens, e evitas
A chuva, e irritas o que nada demove
No tempo, e continuamente chove…






6-11-2006

"( pela Jael ) Nostálgico"

Há quanto tempo não vejo,
Embora ainda me sinta
Crédulo do teu olhar mágico.
Sinto saudades de um beijo
Que não tive, qual poética tinta
A escorrer um amor trágico.


Entre sombras estou, e diviso
O teu rosto sóbrio, o teu corpo elegante,
Que só podia desprezar este local preciso.
Cabelo e olhos negros, pele branca constante,
Martiriza minha mente, como aquele teu sorriso
Que escapou por um instante.


Hoje, ( como outrora ) vejo nuvens de contrastes carregadas
Ameaçando frágil mundo trágico.
Outrora, ( como hoje ) vendo belas feições delicadas,
Não sei o que me sinto…talvez nostálgico.




4-11-2006

"Revolta"

Vindo de mais um dia, cansado
Desmonto do cavalo mais triste que eu.
Dispo-me da armadura velha e ferrugenta
Que combateu o gigante mais desaforado.
A minha espada escura o seu sangue verteu,
Pela minha dama distante.
Deito-me com o sol a morrer.
Acordo com o sol a nascer.
Ao meio do dia vou finalmente ser recebido pela minha princesa.
As minhas roupas de gala
Visto, na planície mais bela vou entoando a minha fala,
Caem-me aos pés os umbrais da mais cândida fortaleza.
A minha voz sôfrega de ânsia estala.
Espero por sinais, superstição e paixão.
Entro afinal, e só encontro silêncio e escuridão.

Adormeci e acordei nu no meio da noite
Caminhando entre luzes artificiais.
Mirava-me um ancião e dei-lhe um açoite…
Acelerados automóveis com partidos pedais
Atropelavam cães abandonados e viandantes.
Entrei em discotecas e restaurantes,
Rasguei buracos anais, penetrei em túneis menstruais,
Comi carnes vaginais,
Senti desprezo pelo luar.
Vi um disperso batalhão de marginais
Que acabei por comandar,
Com a voz de uma infernal lira
Para o meu corpo acompanhar.
Mas, como um outro Aquiles,
Uma sacerdotisa vampira
Mordia-me o calcanhar.

"Poeta"

Quando em qualquer lado, qualquer momento
Te sentires um forasteiro
Enjoado do mundo inteiro.
Quando qualquer pensamento
Teu acordar Morfeu,
Para um sonho Europeu,
Ainda assim serás um estrangeiro.




Quando quiseres seduzir
Mimosa sacerdotisa
Imaculada de eternidade.
Quando quiseres porvir
O que só ela profetisa
Com gestos de deidade.
Irás vê-la sorrir
Com um olhar que escraviza
A tua liberdade.



Quando amares assim,
Quando sentires que o princípio é o fim,
Lembra-te de mim.




20-10-2006

"Hoje vou chorar"

Porque a minha avó
Que teve setenta e nove anos de vivacidade,
Está doente na infelicidade
De se ver só.


Hoje vou chorar,
Porque a minha mãe,
A melhor pessoa que o mundo tem,
Não tem carinhos de ninguém
E no entanto é a flor que eu quero bem.


Hoje vou chorar,
Porque a minha amada
Deixou de me amar.
Hoje vou chorar nessa estrada
Que só a minha vida parece terminar.
Hoje vou chorar.






25-3-2005

"Por um sentido"

Por um poema na estação
De comboios madrugava sentido.
Por um dilema do coração
Procurava um bilhete perdido.


Às vezes,
Na minha solidão, deidades sonhava amar.
Como um cobarde começava a sorrir.
Outras vezes,
Embriagado como um comboio militar
Prestes a parir.


Vi numa mulher utopia.
Aprisionado e contente.
Perdi-a como perdi o dia.
Deixei-a ser da melancolia.
Dei-lhe um pontapé com a mente.


Por um sentido
No labirinto caminha…
Como um rato doente e perdido
Sentindo que se adivinha.




19-10-2006

terça-feira, 31 de março de 2009

PROJECTO DE DOUTORA

Decerto que a fugitiva aurora
Na tua futura sapiência se demora.
Como os conselhos que outrora
Desfiaste e os usas agora.

Decerto que quando menos for preciso
Senhora dona doutora
Com um escondido desejo lascivo
Para um pobre bruto serás deusa e sedutora.

A deusa da medicina serás
Por controlares um louco
Da poesia que vale tão pouco.
O teu doutor encantarás,
E o ciúme controlarás
Para não seres aquilo
Que aprendeste atrás.
27-3-2009
Rui Sousa

sexta-feira, 27 de março de 2009

"Antiga musa"

Musa que me arrebatava
Inspirados versos de amor…
Musa que me amava no horror
Tétrico, onde sem sono me deitava…

Fica a saber em linguagem torpe e rasteira
Que pareces uma «cota».
A tua vaidade, pose e maneira
De deusa transpira e desbota.

Fica a saber que morreste
Quando te casaste.


16-1-2007

"Um conto poético"

O mundo é uma máquina de poesia.

Mas…
Ó doce musa, a tua face vermelha
Inspira-me de amor, inspira a graça,
Mas o meu rosto transpira desgraça
Por este amor atroz que me embaralha.
Adormeço…
Forasteiro num lugar
Impiedoso e imundo,
Não consigo encontrar
Conforto neste mundo.
Acordo:
Apático no mundo,
Quis compreendê-lo neste dia
Onde tudo era mais frio e esquivo.
Com nada nem ninguém me confundo.
Julguei ser este o dia da negra alegria,
Sentir-me morto estando vivo.
Sentir?...sinto algo….um sentimento tão profundo
Que estaria disposto a tudo
Para concretizá-lo neste bestial instante.
Ah!...fosses submissa e só minha
Já, serias antiga e bela…eu seria mudo,
Falhando naquele momento circunstante.
Passei a manhã incomodado e pensativo
Sem reparar em ninguém,
Apesar de me observar alguém…
Alguém morto e vivo…não vivo.
Alguém incomodado e pensativo,
Temido e escondido apaixonado…mas quem?...
Meio-dia, o sol entre nuvens espessas batalhava,
Procurava esconder-me iluminando.
Um vento forte me guiava,


Por caminhos onde ninguém passava,
O mórbido canto da chuva açoitando
O vento mais forte contrariava,
E cada vez que eu parava
Parecia que congelava.
Podia fugir mas não podia.
Fui com o vento que me seguia
Por pinhais abandonados,
Num triângulo inexplicavelmente conjugados.
Optei pelo do meio de caminho
Lamacento e cansativo, tortuoso.
Passo quilómetros sem sentir…
( muitos outros adivinho ),
Quando ouço um gemido forte e vitorioso,
Pairando neste ambiente de onde não pode partir.
Fugir ou ficar? Estou cansado e sozinho,
Fraco para avançar, fraco para voltar
E ainda mais fraco por esperar…
Olhei para trás e vi o que me tinha cansado:
Imagens distantes aproximavam-se rapidamente.
Loucos formando a sua sociedade.
Um quadro de pessoas vencidas por um louco desfigurado,
Inspira um tímido pintor que se mata de repente.
Imagens de casais abençoados pelo dinheiro,
Tretas de ricos que são a verdade dos pobres.
Todos os que tinham um meio
Se extremaram neste filme de solidão
E choraram ao ver o cinema cheio.



Sou mais indiferente do que me fazem.
Vejo as pinturas do meu pensamento
A sobressaírem na escuridão.


Peço às clarezas do mundo que atrasem
O clarão, inventando tal lamento
Que clarifique um timbre no alçapão,
Por onde caio desenganado…
Tive dores durante tantos dias, que nunca menti.
Passei fome e tormentos lentos…penso que morri…
Acordei numa montanha?
E já irrompe uma voz estranha:


Viver nas trevas…a fatal promessa.
Convivo só…com o meu coração…
Um relógio cimentado no chão
Para que os mortos caminhem depressa.


Na montanha, o castelo desprezado,
Escondendo um tesouro magistral,
Ruiu por ecos frios de um casal
Que de outro casal se havia apartado.


Agora já encontraste a tua estadia,
Um lugar onde não te chamam estranho,
Onde a escuridão é a luz do dia,
Esquecendo o teu tamanho.


8-10-1998

"Intruso"

Olho para o espelho
E quem sou eu?
Um sábio velho,
Um novo Morfeu.
A vida é esperar,
A lentidão do por do sol,
O consumo de álcool
Faz apressar
A noite, que alcança um espírito fatigado,
Um coração que não se satisfaz,
Um corpo que não tem paz,
Que se faz sentir no outro lado.
A mentalidade intolerável
Desse ser que aparece,
Esse humano que cresce
E se mostra no espaço mecanizável.



Não sei se és tu ou sou eu
Que transcende qualquer festa,
Não sei se és tu ou sou eu
Que se prende a qualquer treta,
Mas sei que ambos nos encontraremos na floresta.


1998

"O cemitério novo da Pampilhosa"

O cemitério novo é o espelho…
É o espelho dos cemitérios místicos.
Por isso talvez me pareça o mais velho.
No lado interno,
Tem túmulos com retoques artísticos.
Jazigos por cima dos túmulos,
Que intentam chegar mais rápido ao céu…
Por baixo tem túmulos mais simples, mas com lapidações
De sentimentos ternos.


Espalhados por todo este império,
Vêm-se campas sem flores, sem mármore, sem nome,
Sem um olhar fraterno.
Só com um número, como um prisioneiro,
Que se liberta com o fim da vida,
Apesar de parecer que irá parar ao inferno.



Visto do lado externo,
Se subires a subida cansativa
Sem olhar para os lados,
Sem pensar na vida,
Vendo velhos pinheiros
Que parecem a sombra do cemitério,
Conhecerás outro mundo, entrarás no céu…


4-11-1998

"Musa terceira"

Rapariga nova, tesouro esquecido
Entrementes do bem e do mal,
Mentes diferentes objecto aparecido
Quando os seus pais eram o casal.


Moça magnética repele um sentido,
Na sua graça o impacto recai.
Aqui, um desejo escondido
Ali, violência do pai.


Mudanças todos os dias
Impossibilitadas de mudar,
Lembranças casuais de noites vazias
Onde tudo tendia a ficar.


Que raiva sente
De a outros sentimentos não poder escapar.
O outro sexo, até aqui indiferente,
Jamais a poderia largar.


O pai psicopata, a mãe na disputa,
Em nada a conseguiam ajudar.
E este homem, numa estranha luta,
A sua personalidade na filha resolveu vincar.


Ele alcançou-me nos olhos, estremeceu uma vista,
Despiu a roupa, apertou-me nos braços,
Fodeu-me na boca, arrancou-me os pedaços,
E ali ficou, numa pose machista.


Levaram-na ao psiquiatra
Para lá seguir uma carreira.
Prometeram ouro, mas ela escolheu luz de prata…
Ingrata uma vez, rebelde a vida inteira.


1995

"Rui Alexandre de Almeida e Sousa"

Afinal o meu amor acabou.
Nunca mais irei a festas.
Festejarei nos ermos das florestas
A transcendência que me derrotou.


Criarei um novo folclore,
Um folclore novo sem ajudantes,
Sem a ajuda de pedantes
Que não conhecem a minha dor.


Quem me dera morrer de repente
Atravessado por uma bala perdida,
Assim com está perdida a minha mente.
Rir do corpo, escandalizar a mente
De pesadelos, de inconformação.
No final uma luz, a salvação,
Mas tudo vago…foge num repente.


O dia é gélido…a noite patente
Compartilha da minha solidão,
Até acordar velho na escuridão,
E começar já tudo novamente.


Busco amor, um afecto caloroso
Neste meu destino, em vis gerações.
E constituir bens, um nome honroso.


Musa…soberana das tentações,
Eu corro, mas seguirei vitorioso,
Com sede de glórias…ou decepções.


1996

"Bocejos de bodegueiro"

Pensei estar no refúgio perfeito.
Ninguém me podia ver,
Mas todos pareciam saber
Que batia nada no meu peito.


Pensei estar no refúgio estreito
Que me deste a entender,
Percebi que nada havia a perceber.
Agora não me tenho direito.


Partiste…incrédula naquele rafeiro,
Procurando sempre a zona mais escurecida.
Encontrado entre bocejos de bodegueiro.
Bagatela eis a poesia prometida:
A suavidade da musa a tempo inteiro
Numa sórdida terra desguarnecida

1995

"Caminhando leproso"

Infeliz, mísero, caminhando leproso,
O coração escorrega sem par,
Fugindo da mente faz funcionar,
Preciso, este invento sentencioso.


Alcançado por um idoso,
Cauteloso por me acompanhar
No olhar melancólico pretendeu acabar,
Um sentimento orgulhoso.


O aberrante tem na sociedade
Denominada um frágil inimigo,
O colectivo, na solidão obscuridade.
Se a vida não fosse um amigo,
A repentina certeza da mortalidade
Seria o repensado abrigo.

1995