segunda-feira, 27 de abril de 2009

"FANTASPAMPILHOSA"

Sou um homem belo
Com algum talento?
E para beatos de fingimento
A sua coscuvilhice revelo.

Velhas sujas,
Diurnas corujas
Que em vidas alheias
Tecem teias.

Filhas donzelas criaram
Para se casarem puras,
Singelas e não astutas.
Já parideiras se separaram
Sentindo todas as vergalhadas duras
Contam-se agora no rol das putas.

Velhos remendados pelo dinheiro
Querem cortar as raízes da moda
E chamam a qualquer jovem drogado.
Velhos mochos piando no poleiro
Onde galinhas velhas lhe fizeram a poda,
Tomam antibiótico com vinho misturado.

Habitada por gente duvidosa,
És também sossegada e formosa,
Oh, FantasPampilhosa.
5-6-2008

"Os meus olhos"

Os meus olhos alteram de cor,
Consoante a natureza que me rodeia…
Os meus olhos conhecem o amor
Sofrido e nunca mostram uma cor feia.

Por vezes são azuis como o céu espelhado no mar,
Procurando algo que já me encontrou.
Verdes, por vezes de ciumento amar
Sereia instável que no meu coração nadou…
Muitas vezes cinzentos, nunca cansados de olhar
O invernal tempo que a mente confortou.

Os teus olhos são lindos, dizem belas
Angelicais com expressões singelas.
Que lindos olhos, dizem aquelas
Que me morderiam dentro de sacras capelas…
Os teus olhos mudam…dizem todas elas…
E eu só te vejo a ti, que os meus olhos desvelas…


6-12-2006

"Miragem de Dezembro"

Melancólica e fria, a chuva se mostrava
Ao espectro que a sua sepultura cavava…
Nasci no instável mês de Setembro,
Amando a paisagem de Dezembro.
Abrindo a boca para o céu,
A chuva me dava molhados beijos…
Fechando e abrindo os meus olhos de ateu
Repentinamente vejo
Uma mulher misteriosa
Desaparecendo numa estrada vertiginosa…
Seria uma miragem?...
O seu longo cabelo negro luzidio
Continha forças para me enforcar.
Tentava esconder libertinagem
Um vestido branco apertando o corpo esguio
De se casar e o mundo a se enamorar…
Desprezando o chão caminhava para um desvio
Que eu seguia nítido como o luar.
O seu olhar ardente derrete o frio
Como o repentino sol que me vem ofuscar…

Eras estável continuidade da palavra beleza…
Temperamento instável como a temperatura portuguesa?...





6-12-2006

"Confissão à natureza"

Confesso que gosto de sentir a natureza
E de ver a natureza humana
Amaldiçoando chuva intensa pelo vento forte enlaçada…
Vejo a urbana rudeza
E de ser tão rude me ufana.
Amo a contracção do céu…infernal chuva pela tua vulva aspirada:

Confissão

Perdoa-me, porque confessarei,
Criatura mortal do meu desterro…
Não tive as mulheres que desejei.
Não te tive…e amei…
Cientistas do coração forjaram o ferro.
Para longe voei…
Ferrugento, morrerei.
Pesadamente aterro…

Não sei porque te comecei a amar…
Tens uma beleza invulgar,
Mas tens ambições vulgares.
Talvez sentisse vontade de me escravizar.
Assim como roubaram a liberdade do luar,
Roubaram-me afectos, o teu olhar…






5-12-2006
Militar graduado, ou militar graduada,
Embora o sexo apeteça,
Serás sempre limitado da cabeça
De cornos ilimitada…







5-12-2006
Guerreiros latinos e gregos marcam posições…
Dulcineia e Helena não contêm comichões…


Não querendo exceder a constância de D. Quixote
Perguntava com ardor um ancião de vida pacata:
Alguma dama de honor
Quer dar a rata
Para tirar o bolor
Do queijo do velhote?




4-12-2006

"O romantismo morreu"

Estou no meio da estrada…
Só quero sobreviver a mais uma alvorada…

Toda a noite observei a lua,
Rodeada de traços de alguém
Que já não sei quem.
A lua me insinua
Que é uma mulher nua,
Que foi desflorada sem amar ninguém.

Já não estou no meio da estrada…
Sobrevivi a mais uma alvorada.

O sol rapidamente iluminou,
Para quem assim o viveu.
O surrealismo reinou…
O romantismo morreu.






3-12-2006

"Mais uma vez"

E mais uma vez,
Preferi ficar longe de vocês,
Meus amigos…
E mais uma vez,
Senti as ferraduras dos pés,
Dos novos e dos antigos.
E uma única vez,
Imaginei a murros e pontapés,
O sapatear e o bailar dos meus inimigos.

E ao invés
De sentir o teu carinho,
Senti o revés
De SOFRER baixinho?...







3-12-2006
Nunca provei remédio
Que me não soubesse a tédio.

Sempre existiu o romantismo,
Mas vive-se de dinheiro.
Tenho expressões de cavalheirismo
E tenho limitações de escudeiro.
Ah! E se eu fosse um galante cavaleiro
Derretendo o gelo de um coração frio?
Nada…nem em mim confio.
Sou um poeta que nasceu escudeiro…
Serei de venal dama cavalo e cavaleiro,
Tísico mental, e físico doentio…





3-12-2006
Já não seduzido pelo amor.
Já a verde idade
A desbotar a cor…
A idade devia ser incolor,
Para confusão da humanidade.
Este momento sedutor
É persuadido por obscura divindade.
A mentira não é indolor,
Porque fere, e sai do ventre da cidade.
Não sei se fui escravo ou senhor
Noutro século, na mesma sociedade.
Neste momento, a única verdade
É a dor.






2-12-2006

"Mapa"

Visto somente a minha sombria capa
Para esconder ardores e não chamar preconceitos.
Tenho numa mão um mapa
De escondidos caminhos estreitos.
A outra mão esguia escapa,
E sente a textura de uma vagina no mapa.





1-12-2006

"Jeremiada"

Sou cristão, porque fui baptizado
Num momento que não pôde ser por mim evitado?

Sou como um discreto pagão
Que entre cristãos existo.
A minha mente é habitação
De mulheres nuas, às quais não resisto.
O meu peito é a inflamação
De um sentimento que não quer ser visto.

No fundo serei um vampiro cristão
Que é mordido por Jesus Cristo?...

É muito feio ironizar
Contra quem dá o sol e o luar…






1-12-2006

"Mente de cacto"

A vista baça,
Os braços rendidos
Na velha vidraça
Ampla de sentidos.

Na minha mente tenho espectadores
Aplaudindo físicas dores.
Agora que consigo viver sem álcool
Ainda não consegui compreender o sol.
Os vencedores nascerão perdedores…

No teu jardim
Do mais suave olfacto,
Pecaminoso o tacto
Que não toca em mim.
Tenho a aspereza de um cacto
E dou-te água sem fim.





30-11-2006

"Natural sedução"

Não cansa a distância
De onde para ti me encaminho.
Assim tivesse o mundo tolerância
De não me deixar sozinho.
Sonho que és constância
De ardor e carinho.
Do teu sorriso a sóbria elegância
Pode alterar o meu ébrio caminho.

Cabelo negro, pele branca.
Rivalizas com o luar…
Temo, ( emoção franca )
Se não reflectes os teus olhos no meu olhar.

Creio que os sinais no teu rosto
Para mim tão exóticos como amados,
São sepulcros por gosto,
Dos teus enamorados.

Deixas-me indeciso,
Mas não de melhorar.
Quando soltas um sorriso,
Levas-me o destino no teu olhar…



29-11-2006
Estou hipertenso.
Tremo como incenso
Num vento intenso.
Escrevo e não penso…

Iria piorar neste momento não pensar?...








28-11-2006
Nós…EU, que tão caro custo ao estado,
Que amo e sou maltratado,
Que de fantasmas rodeado,
Serei sempre um inadaptado.









27-11-2006
Morte…leva-me de caravela
À descoberta de longínqua terra,
Onde se escondem feições daquela,
Semeando velha guerra.







27-11-2006

"Lógico"

A medicina e a ciência
Podaram e cortaram a mais bela flor.
Ainda não saberão que a consciência
É a verdadeira dor?

Animal e vegetal.
Impõe-se humano critério…
O mais racional
Seria nascer no cemitério…




26-11-2006
Começo por ter grandiosos tormentos
Que acabam em medíocres pensamentos.

Na minha vida sedentária,
Sinto-me um grande guerreiro grego
Ardendo no sossego
De uma pia funerária.

Quanto mais da vida me esquecer,
Do corpo esquelético já sem torpor,
Da cadavérica fronte,
Quando, enfim, miserável morrer,
Pedirei dois cêntimos, por favor
Que me ponham nos olhos para dar a Caronte.
Também queria um pacote de cigarros levar
Para na viagem não me entediar…




19-11-2006

"Lembra-te"

Lembra-te do que eu costumava ser
Depois do primeiro olhar que trocámos.
Como dois deuses desprezámos
Um amor sincero a florescer.

Lembra-te que só o nosso amor não vai morrer
Quando o mundo de nós se esquecer.
Quando o mundo esquecido ri,
Sozinho lembro-me de ti…

Sem saber de onde vim,
Só existindo assim,
Quando a minha vida chegar ao fim,
Lembra-te de…
Só um grande amor transcende o tempo.



19-11-2006

"Alegria"

Alegria…chove como há muito não chovia…
Escuto-a regalado no meu quarto,
Mas quero da chuva sentir o parto
De donzelas de pejo e magia…








17-11-2006
Sejam pequenas ou grandes festas,
Nunca em grandiosidade são honestas.

Circunstância viciosa e feia,
Comendo e bebendo, como mão alheia…

Sejam pequenas ou grandes festas,
Nunca igualarão as áridas florestas…




16-11-2006
Parem de fazer barulho.
Parem de indignar
O sangue da uva.

Calem-se…como futuro entulho…
Quero escutar
A sabedoria da chuva.





15-11-2006

"Não basta"

Digo
A mim mesmo que não quero sonhar,
Que nunca mais quero amar,
E continuo a ter
Sonhos que acabo por escolher.

Não basta dizer que estou farto
De não ter uma jovem viúva
A prantear como a chuva
Que escuto nas telhas do meu quarto?...

Basta
A pedra que não gasta
Como sentimentos
Que a solidão arrasta.
Femininos cruzamentos
De despistes e tormentos,
Basta.
Não basta…




15-11-2006
Tenho no coração uma ruga.
Tenho no cérebro uma verruga.
Não tenho medo de ter razão?
Na inequívoca escuridão
Vou tentar a minha fuga.

Tentando lembrar-me que refiz
Coisas que nunca fiz,
Por momentos esqueço que te ris
Agora que sou infeliz.

No desasossego acabo por ter sossego.
Vencido o frenesim
Que por vezes vive em mim.
Amo como um Deus cego.




14-11-2006

"Perder a humanidade"

Sozinho estou, não estranhando movimentos
De humanos escondidos no álcool…
Brilhante o sol,
Cegando os pensamentos…

Sozinho estou,
Perdendo algo que nunca tive.
Acompanhado vou
Para onde nada me vive.
Acompanhado vou…
Como se alguém me quisesse…
E penso que algo sou,
Como se eu a esquecesse…
Sozinho ficou…
Como se as coisas mudassem,
Como se poemas novos respirassem
Humanidade…

Venham dourá-la,
Venham apreciar
Obscura sociedade.
Vamos soltá-la,
Vamos deixá-la escapar…
Vamos perder a humanidade…



13-11-2006

"Velhos poemas"

Estou a tentar esquecer velhos poemas
Que ultrapassavam dilemas.
Poemas velhos com certo carisma,
Qual Cervantes entre a mourisma.

Poemas de velhos laços,
Só rasgados em futuros espaços.
Macilentos, pesados abraços
Demorando mimosos pés descalços.

Desejo rasgar
Antigos ardores,
Mas continuo a amar
Impossíveis amores.

Sinto que continuo a escrever
Velhos poemas,
Floridos dilemas,
Sem ninguém para os ler.



12-11-2006

"Os mortos"

Vêm por ribeiras de caminhos tortos,
Por pais pouco abastados,
Ou pelos familiares desprezados,
Desaguar a obscuros portos.

São seres estranhos
Do dia, na noite rápida aniquilam-se.
Em buracos de álcool socializam-se,
Ficando por dentro castanhos,
Brancos ou vermelhos no rosto…marginalizam-se.

Não gostam dos seus semelhantes,
Mas comunicam tísicos com obesos,
E quando pelo álcool ficam acesos,
Escurecem olhos e semblantes.

Vêm os ricos pela estrada
Da ribeira subindo, e viajando dos portos.
Acenam e ninguém diz nada.
Até outro dia, mortos.

E agora, leitor, julgareis o que é mais decente,
Se ser do mundo bêbedo, se de tal gente…








11-11-06

"Retornado"

Quando vi a luz, tudo me esqueceu, tudo escureceu…
Nasci no Porto…em Portugal,
Do continente Europeu
O país mais ocidental.
No Porto, pobre cresci…
Com dois irmãos, duas irmãs
E uma mãe que muito me amou.
De quimeras e aparências me ressenti.
Do cimo da ponte via o sol dourar no rio todas as manhãs,
Tentando esconder a noite cinzenta que sempre me encontrou…
De trabalho, por vezes pesado sobrevivi.
Da escola da vida me fiz doutor,
O meu pai sempre me desprezou.
A minha inocência acabou…
A minha mãe que sempre trabalhou
Trabalhava agora como cozinheira,
Porque o meu pai viajou
Sedento de vida aventureira.
Os tempos eram de ditadura
E eu ambicionava a liberdade.
A minha mãe chorava…olhos de cebola…
Resolvemos todos fazer envergadura
Em verde idade,
E ir ter com o nosso pai a Angola,
Que já sentia nova mocidade.




















Embarcamos e chegamos
Ao nosso pai com facilidade,
Porque naquele tempo leis eram respeitadas.
Senti-me absorto de felicidade,
Sonhadas imagens concretizadas.
Os dias grandes, o sol desaparecendo
Devagar na planície horizontal…
O mar morno arrefecendo
A natureza que me parecia irreal.
Empreguei-me rapidamente,
Porque já era um homem
Trabalhando contente
No calor húmido constante.
Peixe, carne, frutas exóticas que tão bem se comem.
No fim do trabalho
Tinha liberdade para enamorar
Mulheres que se equiparavam
A deusas de pouco agasalho,
Sereias ao descoberto no mar,
Diferentes mulheres, então comunicavam…
Durante anos por este lema me guiava,
Mas o meu coração, outros afectos desejava.
Um dia, ao por do sol vi angelical mulher
Na janela de sua casa espairecendo.
Mas o tempo aos poucos escurecendo
Impediu-a de me ver…
























Fiquei acordado a noite inteira,
Ansiando o despertar do dia.
Era ela a pioneira,
Donzela de magia.
Seguidos dias olhava
Para ela que se mostrava um pouco
Na janela onde estava sentida.
Ela olhava para mim e corava,
E eu ficava louco,
Tinha encontrado a mulher da minha vida.
Mas a guerra que mata e que nunca morre
Chamou-me para a guerra colonial,
Para defender o império de Portugal,
Isto na minha cabeça discorre…
Apesar de não gostar
Assentei praça, tive de me conformar.
E fui « louvado pelo Ex Mo Comdt do B.I.A, por proposta do comandante do pelotão de mobilização, porque durante os dezasseis meses que prestou serviço a seu cargo, demonstrando possuir uma noção exacta dos deveres militares. Militar educado e muito disciplinado nunca se poupou a esforço para que o serviço de que estava encarregado se mantivesse sempre em dia, qualidades que muito o recomendam e o tornaram digno de ser apontado como exemplo a seguir pelos seus camaradas, ( O-S. 157 de 6 de Julho 72 B.I.A ) » .



























Os horrores da guerra estão na minha mente,
Mas não os quero descrever.
O meu coração descreve rapidamente
Aquela mulher que quero ter.
Um dia deu-se o 25 de Abril,
Promessa do fim da guerra.
Voltei para a sonhada terra,
Deslumbre de um rosto gentil.
Diziam os anciões
Que guerras ainda agora começaram.
Diziam que tempestades e tufões
Nesta terra despertaram.
Passado um ano, efectivamente
Tivemos de ir embora
Ameaçados de morte.
Tudo acontece velozmente,
Uma negra carpideira
Deseja-nos boa sorte…
Embarcamos à pressa em barcos e aviões
Atolados como gado.
Marcados com invisíveis farpões,
O português fado…































Para trás ficaram bens materiais, mas não sentimentos,
Vagando pela lembrança,
Tinha a remota esperança
De não encontrar mais tormentos.

Chego sem nada que sensibilize Portugal
E entusiastas revolucionários
Que viveram da ditadura o mal,
Querem me cobrar pensamentos solitários…

E até os mais simplórios
Que não sabem bem o que mudou,
Nem imaginam o que comigo se passou,
Cospem palavra consentida…
Escuto já não espantado:
Retornado…
Mas tudo aceitarei,
Porque um dia voltarei…





11-11-2006
Um homem no coração de África entrega o seu…
Rapidamente pela cabeça lhe passam como um sonho
Os momentos mais marcantes da sua vida.
O primeiro pensamento que lhe irrompeu:
No mundo medonho morro risonho,
Tive uma vida intensamente vivida,
No meu coração quem manda?
Ah! Antigo espírito aventureiro,
Ajudei em tempos idos a fazer de Luanda
Mais aprazível cidade do que o Rio de Janeiro.
Ainda conheço antigos trilhos.
Olhos pretos que me matam de prazeres,
Fui amante, tive variadas mulheres,
Gerei filhas, recusei filhos.
Arrependo-me,
Por quem?...
Porém
Lembro-me…

"Génio morto"

Horas mortas, absurdo
O movimento.
Sou como um surdo
Apreciando forte vento.
Tenho loucas ideias
Que não consigo passar para o papel,
Imagens feias
Que transformariam doce mel.
Amo angelicalmente
Alguém que há muito me esqueceu.
Desprezo diabolicamente
Um anjo que me acolheu.
Adoro a chuva, o som
Que congela frio.
Sinto que seria bom
Afogar-me na foz do rio.

10-11-2006
Minha vida de viver ressentida
No dia, um dia amaste tanto a luz…
No escuro existe algo que em mim reluz,
E a noite torna-se uma porta sem saída.





2003

"Estranha"

Ela vive numa rua escondida
Por flores e arvoredo.
Ela é a essência da minha vida.
O seu perfume faz-me revelar o segredo…


Quando passo perto da sua casa à noite
Quero chamar alto pelo seu nome:
Questiono-me se ela dorme,
Se na sua preenchida vida me afoite.


Não sei dos seus olhos a cor
Que olham o mundo do cimo de uma montanha.
Sinto que ela desconhece o amor,
Porque me conhece com atitude estranha…


Eu sei que vives na rua escondida
De uma criatura nocturna
Que em parte sou eu…
Eu sei que questionas a vida
Como uma criatura diurna
Que certa parte escureceu…






10-11-06

"Locomotiva fora de controlo"

Estavam velhos comboios abandonados
Na estação…podres carruagens.
Entravam pelos vidros meio partidos frias aragens,
Arrefecendo os bancos rotos, onde se deitavam vadios da vida cansados.


O tempo estava tempestuoso,
Outros comboios se ouviam correndo distanciados…
Levando mundos vagarosos
Para universo tenebroso,
Onde veículos pela televisão ilustrados
Eram conduzidos por humanos duvidosos.


Um relâmpago atinge subitamente
Fios eléctricos paralisando
Os rápidos comboios, e despertando
A velha locomotiva que ecoa novamente,
Por mundos civilizados,
Pela Europa e por países apartados
Pela guerra e pela fome.
Resgatando à potência que tudo engole
Alimento para quem não come,
A locomotiva continua fora de controle…






10-11-06

"Velha poesia"

Chuva fria salpicando o momento.
Momento quente, enfurecido vento,
Como nocturna alegria de irreal sinfonia
Pairando no horizonte negro.



Desejo este frio, este tempo que congela o movimento
Ósseo e a carne sempre quente…tormento
Negro, reescrita velha poesia,
Com que sempre me alegro…





6-11-2006

...

……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….....
Vejo o nascer do sol na estação de comboios.
Junta-se a isolada população,
Abrindo guarda chuvas, porque continuamente chove.
Sons mecânicos calam Arroios.
Tudo me atinge, como bilhetes marcados de frustração.
Estou na chuva, e sou o que nada move.

………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Vejo mulheres da chuva agasalhadas,
Que me parecem mais improváveis e bonitas,
E olho-as nos olhos, porque continuamente chove.
Ouço como mudança de tempo, fúteis gargalhadas…
E calada sempre vens, e evitas
A chuva, e irritas o que nada demove
No tempo, e continuamente chove…






6-11-2006

"( pela Jael ) Nostálgico"

Há quanto tempo não vejo,
Embora ainda me sinta
Crédulo do teu olhar mágico.
Sinto saudades de um beijo
Que não tive, qual poética tinta
A escorrer um amor trágico.


Entre sombras estou, e diviso
O teu rosto sóbrio, o teu corpo elegante,
Que só podia desprezar este local preciso.
Cabelo e olhos negros, pele branca constante,
Martiriza minha mente, como aquele teu sorriso
Que escapou por um instante.


Hoje, ( como outrora ) vejo nuvens de contrastes carregadas
Ameaçando frágil mundo trágico.
Outrora, ( como hoje ) vendo belas feições delicadas,
Não sei o que me sinto…talvez nostálgico.




4-11-2006

"Revolta"

Vindo de mais um dia, cansado
Desmonto do cavalo mais triste que eu.
Dispo-me da armadura velha e ferrugenta
Que combateu o gigante mais desaforado.
A minha espada escura o seu sangue verteu,
Pela minha dama distante.
Deito-me com o sol a morrer.
Acordo com o sol a nascer.
Ao meio do dia vou finalmente ser recebido pela minha princesa.
As minhas roupas de gala
Visto, na planície mais bela vou entoando a minha fala,
Caem-me aos pés os umbrais da mais cândida fortaleza.
A minha voz sôfrega de ânsia estala.
Espero por sinais, superstição e paixão.
Entro afinal, e só encontro silêncio e escuridão.

Adormeci e acordei nu no meio da noite
Caminhando entre luzes artificiais.
Mirava-me um ancião e dei-lhe um açoite…
Acelerados automóveis com partidos pedais
Atropelavam cães abandonados e viandantes.
Entrei em discotecas e restaurantes,
Rasguei buracos anais, penetrei em túneis menstruais,
Comi carnes vaginais,
Senti desprezo pelo luar.
Vi um disperso batalhão de marginais
Que acabei por comandar,
Com a voz de uma infernal lira
Para o meu corpo acompanhar.
Mas, como um outro Aquiles,
Uma sacerdotisa vampira
Mordia-me o calcanhar.

"Poeta"

Quando em qualquer lado, qualquer momento
Te sentires um forasteiro
Enjoado do mundo inteiro.
Quando qualquer pensamento
Teu acordar Morfeu,
Para um sonho Europeu,
Ainda assim serás um estrangeiro.




Quando quiseres seduzir
Mimosa sacerdotisa
Imaculada de eternidade.
Quando quiseres porvir
O que só ela profetisa
Com gestos de deidade.
Irás vê-la sorrir
Com um olhar que escraviza
A tua liberdade.



Quando amares assim,
Quando sentires que o princípio é o fim,
Lembra-te de mim.




20-10-2006

"Hoje vou chorar"

Porque a minha avó
Que teve setenta e nove anos de vivacidade,
Está doente na infelicidade
De se ver só.


Hoje vou chorar,
Porque a minha mãe,
A melhor pessoa que o mundo tem,
Não tem carinhos de ninguém
E no entanto é a flor que eu quero bem.


Hoje vou chorar,
Porque a minha amada
Deixou de me amar.
Hoje vou chorar nessa estrada
Que só a minha vida parece terminar.
Hoje vou chorar.






25-3-2005

"Por um sentido"

Por um poema na estação
De comboios madrugava sentido.
Por um dilema do coração
Procurava um bilhete perdido.


Às vezes,
Na minha solidão, deidades sonhava amar.
Como um cobarde começava a sorrir.
Outras vezes,
Embriagado como um comboio militar
Prestes a parir.


Vi numa mulher utopia.
Aprisionado e contente.
Perdi-a como perdi o dia.
Deixei-a ser da melancolia.
Dei-lhe um pontapé com a mente.


Por um sentido
No labirinto caminha…
Como um rato doente e perdido
Sentindo que se adivinha.




19-10-2006