segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Revolta"

Vindo de mais um dia, cansado
Desmonto do cavalo mais triste que eu.
Dispo-me da armadura velha e ferrugenta
Que combateu o gigante mais desaforado.
A minha espada escura o seu sangue verteu,
Pela minha dama distante.
Deito-me com o sol a morrer.
Acordo com o sol a nascer.
Ao meio do dia vou finalmente ser recebido pela minha princesa.
As minhas roupas de gala
Visto, na planície mais bela vou entoando a minha fala,
Caem-me aos pés os umbrais da mais cândida fortaleza.
A minha voz sôfrega de ânsia estala.
Espero por sinais, superstição e paixão.
Entro afinal, e só encontro silêncio e escuridão.

Adormeci e acordei nu no meio da noite
Caminhando entre luzes artificiais.
Mirava-me um ancião e dei-lhe um açoite…
Acelerados automóveis com partidos pedais
Atropelavam cães abandonados e viandantes.
Entrei em discotecas e restaurantes,
Rasguei buracos anais, penetrei em túneis menstruais,
Comi carnes vaginais,
Senti desprezo pelo luar.
Vi um disperso batalhão de marginais
Que acabei por comandar,
Com a voz de uma infernal lira
Para o meu corpo acompanhar.
Mas, como um outro Aquiles,
Uma sacerdotisa vampira
Mordia-me o calcanhar.

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