quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ao universo erudito
Dou um coração aflito.






Rui Sousa

TABERNA ANTIGA

Eu vejo uma estrela
Que penso que lê
O que eu escrevo
À luz de uma vela,
Porquê?...
Estou sentado
Na taberna antiga
Bebendo único vinho
Novo que não estranha
A sequiosa barriga
Como um vento quentinho
Que renova e desentranha
Uma unha preta que me arranha.
Por trás de mim está
Uma diferente mulher
Que a atenção requer
Em cada diferente ideia.
Também estão a perceber
O canto e o ranger
Como uma sereia
Esculpindo uma teia…
Calados
Todos bebem…
Todos fedem
Sentimentos guardados…
De repente
Aqui poisa cansada
Uma pomba branca…
De repente
A porta sombria e pesada
Sozinha se tranca.
Despem-lhe os virginais folhos
Monstros, vampiros inimaginados.
Vê-me com a graça dos teus olhos
De medos e sentimentos frustrados.
E abraça-me com os teus braços admirados
De poderes ilimitados.


13-12-2007

A LINDA FARMACÊUTICA

Amanhece o sol tímido
E sente-se um dia húmido.
Algo aguarda no nevoeiro…
Algo que a noite inteira
Por ermos e cemitérios caminhou,
Exprimindo-se verdadeiro
Que com sentida maneira,
Aos corvos e corujas os seus males confessou
Que os comoveu e tocou.
Parecia que a lua me vigiava.
Olhos esverdeados com doçura
Eram no meu peito ciúme e amargura
Que todo o corpo torturava.
Estes sentimentos em mim guardo.
A civilização ainda ressonava
Com a pressa que a aguardava…
Sozinho continuo…aguardo, aguardo…aguardo…
Carros de gélida bateria
Soluçavam na manhã cinzenta e fria.
De ansiedade ainda ardo.
A vila já acordou.
A minha audição já se acomodou.
No entanto…aguardo, aguardo…aguardo…
Eis, que finalmente
Alegrando-se o dia
De carro ela aparecia,
E passando por mim sorria…
Para o seu trabalho se dirigia.
E eu…espécie de ridículo vigia,
Não chorava nem sorria.
………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Ela tem natural simpatia
No seu trabalho que faz com regra.
E a sua doce atitude alegra
Moribundos, doença e antipatia.
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
E para a minha doença
És o mal e dás o remédio?...

3-10-2007

NOUTROS TEMPOS A POESIA…

Quando dos poetas a sua poesia
Expressava epopeias de mulheres…
Sussurrada aos ouvidos destes seres
Como uma brisa que no calor se aprecia…

Quando com brutos casadas
Por interesses do forçoso masoquismo,
Antecipou Bocage o romantismo
Para as ânsias enamoradas.

Quando de Pessoa o modernismo
Transcendeu e esquecido morreu.
Incríveis noites de pessimismo
Descreveu e para sempre viveu.

Agora vive-se uma cega utopia
De automóveis e computadores.
Morreram os amores e as suas cores.
Noutros tempos a poesia…








12-5-2007

Por causa de ti (LAURA)

Por causa do teu olhar
Desinibido o meu afecto,
Fui um deus saindo do mar,
Molhado e erecto.

Por causa dos orvalhados
Quentes lábios teus,
Dias de sol foram desprezados
Divinamente ateus.

Por causa do teu sertão
Como um pecado materno,
Fui um eremita aquecido no Inverno
E esquecido da solidão.

Estando longe de ti,
Estou mais cativo.
Por causa do que em ti vi,
Estou vivo.







22-3-2007
Disseste que o meu olhar é lindo?!...
Se os olhos espelham a alma
Verás que nas cores a sua calma
Por ti se tem esvaindo.

Não vês o negrume
Nas sentidas olheiras?
Não sentes o queixume
De sinceras maneiras?

Por o teu ser vislumbrar
O sol se foi ofuscar.
E por te ver no luar
Os meus olhos vou fechar
Feios e vermelhos de chorar.








14-1-2008

ORQUÍDEA, MARGARIDA E ROSA

Com mais graça que as demais
Serenamente te levantais
Despertada pelos meus ais?...

Sinto-me envenenado
No púlpito do coração.
De modas desenraizado
A tradição sempre foi corrupção.

Do coração teologias
Escurecem os meus amores.
Por cândidas musas te movias
E te entristecem agora as mais belas cores.

Aquela orquídea, margarida e rosa
Escondia-se de descarados olhares.
Cândida dos meus pesares,
Mais vistosa que a flor mais formosa.






13-1-2008

MEMÓRIAS DE UMA NOITE

De uma noite confissões
De felinos olhares
Morrem dois corações
De sinceros pesares.

E enquanto o passado
Para longe parecia voar
Com a linguagem universal…
O luar foi por nós minguado
Tendo indo Diana caçar
Acessível presa mortal.

E quando eu estava ocupado
A beber 13 shots de mescal,
Tu davas-me o teu olhar despreocupado,
Emancipando Portugal.

De infortúnio emancipado
Fizeste-me ver a guerra.
E um poeta desafortunado
É sempre um estrangeiro
Na sua terra.






7-1-2008

FAZ-ME…

Se o cérebro não for submisso
Ao escravo coração
Libertar-me-ei da razão,
Se tu gostares disso.

Já dissemos tanto adeus
Inconscientes da esperança.
A razão pede a cobrança
E só questionar já é aceitar um Deus.

Sedução de olhares
Mais confusos que palavras.
Intuição de mulheres
Não tocam as mãos escravas.

Faz-me provar a maçã
Brilhante e desembaciada.
E com violenta flechada
Cupido faz-me odiar a manhã.










6-1-2008

FAZ-ME ODIAR O SOL E AMAR FIEL O ÁLCOOL…

O corpo exposto
A animal filosofia
Em dois repartes.
E com estranho gosto
Penso que a pornografia
É a rainha das artes?

E loucura é ter pejo
De não tratar frágil mulher
Que insinua que quer
Ser tratada com animal desejo?

Queres saber
O que estou a escrever,
Se é fácil dizer
O que não estou a entender?

Tenho de ocupar a minha mente
Com o que não estou a perder.
Com o que não me satisfaz.
E esquecer de repente
Aquilo que se vencer
Não me ganhará paz?

Embriagado
Por ser algum.
Desesperado
Não sendo nenhum.






4-1-2008
Pessoas, vendo raras
Expressões que enlouquecem
Por vezes se esquecem
Das suas próprias caras.

E por vezes vejo um babuíno
A possuir uma deidade.
E vejo também uma beldade
Entregando-se a um rico suíno.

É chegada a minha vez
De ser um porco soez,
Grunhindo e suando por dinheiro
Sendo outrora um romântico verdadeiro.

Havia alguma coisa no caminho
Que justificava a minha dor.
Um comichoso feminil ardor
Que à tempestade expunha o passarinho.



Destemida como uma gata com cio…








3-1-2008
Tenho nada…frenético na minha cama…
Preso de insónia por quem não me ama.
A Invernal noite por mim chama
E iluminados pelo poste que inflama
Chuto fantasmas nas poças de lama.

Quero quebrar o encanto
Que assim me levava para o fim.
E quero da chuva sentir o pranto
Que nunca fizeste por mim.

Na minha melancolia suicida
Só tinha no álcool calor.
E na minha confusa visa
Resumi que só tenho amor.







2-1-2008
E parado no tempo que deixaste para trás…
Durmo só acompanhado
Pelo vómito de uma garrafa
De whisky:

Pedi tantos carinhos
Frenético e demente.
Andei por tantos caminhos,
Mas nunca atravessei a tua mente.

Agredido por fantasmas que soltaste…
Vendo concretas filmagens
Em inconcretas imagens
Assim te esperei e nunca mais voltaste.

Gozado por seres concebíveis
Em nada estou integrado.
Desprezado por seres desprezíveis
Deixaste-me ser um inadaptado.

Agora estou sóbrio
Talvez por não ter saúde
E nenhuma droga me ajude
A ser o teu ópio.





29-12-2007

ABANDONADO

O Cristo redentor…
O Paulo redimido…
Não lhe conheço o valor
E ninguém é protegido.

De Vulcano os seus martelos,
Zeloso forjou os anelos
Que enleiam Marte e Vénus.
De Medusa os seus cabelos
Vi escondidos nos olhos mais belos.

Por Afrodite enamorado
O rio Estige encontrei.
E de corpo inteiro mergulhei
Deixando Páris enciumado.

Sou um Lázaro assim fadado.
Um Bocage envergonhado.
Um estro embaciado.
Um Casanova abandonado.





26-12-2007

ADORMECIDO HÁ TANTO TEMPO

Há tanto tempo adormecido
Escondido do mundo aborrecido
Com os meus sentidos imprevistos
Cheirando o sangue contraído,
Escutando abafado feminino gemido,
Saboreando odores esquisitos
Com um voraz intuito descontraído.

A minha língua e os meus lábios quentes
Querem racionalizar a tua intuição.
De te morder com beijos ardentes
Intrincados na correspondida paixão.

Mas, há tanto tempo adormecido
Não consegui adormecer o coração
Batendo pelo rosto mais querido.
Pelos olhos que derretem a razão.
Um corpo esguio que requer atenção.
Mas, por tudo isto ferido
Voltei frenético para o caixão
Onde há tanto tempo adormecido…






17-12-2007
Tu pensas que és esperto,
Porque não vês
O mundo desperto
No que não crês!
Não és.

Enquanto eu viver
Serei um imprestável.
Quando eu morrer
Continuarei preso
Ao imaginável.

ESTOU PRESO NESTE MUNDO.
Impassível impaciente erecto.
Reconheço que no fundo
É bom passar discreto.

Perturbações indiscretas
Não atingem nenhuns corações.
Atitudes correctas
Escondem mutáveis ejaculações.

Mas todos me olham
Confuso dispersando os meus seres.
Ofereço os caracteres
Ocultos que tudo molham
E não se desfolham?

Tu pensas que és
Não és

Tu pensas que sabes
Não cabes

Tu pontapeias
Magoas-te

Pontapeias com a mente
És gente


16-12-2007

LUZES DA SOLIDÃO

Um ímpeto irresistível
De ser algo inconcebível
Faz sair de mim ininteligível
Um encanto visível.

O som de um antigo violino
Seduzindo uma mulher imaculada
Como uma pomba no desatino
De poisar na altura errada.

Sai da discoteca hipócrita
Abafando ruído, os teus prantos.
E entrega-me os teus encantos
Na taberna gótica.
……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Violador que se auto seduz,
O sol despe a escuridão
Como uma adaga de luz.
Formam-se nuvens negras e nos
Dão por vezes luzes da solidão.







15-12-2007

ESPERTOS

Vocês são tão espertos
Que desconhecem a demência.
Não sabem que a inteligência
É oculta dos gestos certos?

Vocês que regem países
Temam o povo roto e nu.
Vocês de rostos felizes
Não sabem que têm cara de cu?

Robots que falam de pedagogia
Têm curtos circuitos de hipocrisia.
Pedantes que espumam da boca porcaria,
Temam a poesia.

Vocês que são tão vulgares
Querem ser imortalizados.
Vocês que são tão vaidosos
São hermafroditas procriados?






13-12-2007

POEMA INCONTROLADO

Vejo o nascer da alva
Iluminando a minha cova.
Sou o que não sei que se ressalva
Em frente de uma real prova.

Tenho em mim escondido
Tanto ardor e carinho
Para dar a uma só mulher
Que me tem perdido
No seu conhecido caminho
De zelos a sofrer e arder
Embalando o seu adormecer.
Fui um condor na vaidade ferido.
Um irracional medicado.
Sou um predador domesticado.
Num decote de um vestido ousado
Sou um Zéfiro (1) controlado.

Podia despir a roupa mais discreta
Com um afrodisíaco descarado.
E provar a doçura mais concreta
Com um desdém leonino. (Se eu fosse incontrolado)




(1) Vento




10-12-2007

GRILHÃO

Adoro o espírito feminino,
Mas gostava de ser um Cid marroquino
Desconhecendo o que é ter o pé caprino.

Sou qual monge por vós vestido.
Não maldigo a vossa emancipação.
Só digo que continuam presas a algum Cupido do dinheiro.
Cervantes descreveu-as num futuro já cumprido.
No rio Estige banhou o coração.
Descreveu amor e um incrível guerreiro,
E não precisou de procriar para ter tal herdeiro.

Tardou a chegar a emancipação
Como tardava um escravo a ser forro.
Finalmente algumas mulheres livres são,
E neste pensamento as discorro:

Para algumas mulheres
Ser uma mulher emancipada
Ou ser uma puta descarada
Têm os mesmos caracteres.





9-12-2007

AMOR DE VAMPIRO

Dizem que não tenho amor.
Que estou enterrado e frio.
Acordei tão estranho, e rio,
Porque nunca senti tanto calor.

A ti, Afrodite que idolatrei
Magra, de pele branca e cabelo negro.
Dou-te olhares sinceros que de ti retirei…
Sendo tão triste por um momento alegro
Melancólica lua que em duas requebro.

Se no rio Estige pudesse mergulhar
E para o mundo humano depois voltasse,
Talvez nem Afrodite escapasse
A este tão bizarro amar.

Não tenhas medo de mim…
Todos me estranham,
Talvez porque já não me iludo.
Só por ti…






9-12-2007

UM POETA EM MIL

Sim, eu não consigo
Parar de brincar com a língua.
É portuguesa de falso abrigo.
Sedutora que me deixa à míngua.

Versos de conveniência
Não fazem sentido para mim.
Nem versejar com eloquência
Celebridades que se dizem assim.

Procuro amor sempre mais verdadeiro.
Tenho na mente feminil obsessão,
Continuando aberto o doente coração,
Mas nunca para o romantismo do dinheiro.

Detesto sons bruscos, e a moralidade reescrita.
Mas sei que os donos do mundo são ainda mais ignóbeis.
Podem me ver nesta sociedade voraz e consumista.
Mas nunca ambicionei nenhum género de automóveis
E só, acho o amor contrário aos telemóveis.

Não quero velhas ou novas religiões
Nem quando estiver doente ou senil.
Não cegam as pequenas ilusões
Um poeta em mil.





8-12-2007

VOLTA

Dou em mim voltas, voltas e voltas
E só sei que tu és a tal.
Mil estrelas estão em ti envoltas
E nenhuma me diz se me queres bem ou mal.

Não empobreces nem soltas
Os sentimentos mais nobres.
Enamorados pobres
Enleiam-se nas tuas voltas.

No tempo volta atrás
E vê-me tropeçando no teu caminho.
Regressa ao tempo que te apraz
Esquecendo-te de mim sozinho.








8-12-2007

NINGUÉM

O amor solitário vem…
Penso em alguém
Que será ninguém?
Se amor não tem.
Outro fantasma, também.

A musa ausente contém
Novos poemas doridos,
Velhos afectos feridos,
Outro fantasma, também.

O álcool deixou de me amar…
Assim também lhe retribui.
Só a minha saúde destruí
Querendo lento me matar.

O álcool, a musa, a poesia, meu bem…
Outro fantasma, também.









2-12-2007

ANTISOCIAL

Isto não é ser social?


Uma besta conscientemente
Calma e enjaulada,
Espera calmamente
Pelo beijo da princesa amada.

Uma nova seita inconsciente de si
Pede que TIREM ESSE ESQUIZO DAQUI,
Porque o amor que ele recebeu
Foi da solidão com quem viveu.

E às vezes incógnito no breu
Vejo uma nova constelação no céu
Que só a mim se dá a conhecer.
Iluminando no breu que me escondeu
Um passo de deusa que o nada fez estremecer…

E às vezes como um animal
Tenho um dialecto transcendental
Com um Minotauro racional
Que me eleva ao Nirvana anti social.









29-11-2007

REFÚGIO NO «MAU» TEMPOEstou de luto por mim. No tempo de sol que me entristece Sou a bruma que só aparece Para a musa que não é assim. Quisera acredi

Estou de luto por mim.
No tempo de sol que me entristece
Sou a bruma que só aparece
Para a musa que não é assim.

Quisera acreditar no fim.
Mas sou psíquico e sonhador…
De Deus quisera castigo e dor,
Mas por uma mortal do Inferno vim.

Podem pensar que não resisto
Às tentações da comum terra.
Mas aos sentimentos que o meu peito encerra
Admito que digam que não posso ser isto.

Se todos pensam que sou
Espécie de esquizo vampiro frio…
Não sonham que num amor frenético,
Um calafrio
Eterno o meu corpo evaporou…







2-12-2007

PROA

Sofia, sempre tão bela
Caminhando com tanta proa
Por essa sinistra viela
Um dia, algum tarado
Te abalroa.







10-6-2009

MORTO OUTRA VEZ

Quando o poeta morre
A sua poesia tem mais vida.
Musa esguia e esquiva…
Tesouro que corre
E assim desconhece a ferida
Que chama por uma chama viva.

Só tenho amor
Por quem sou desprezado.
Quisera sentir a dor
De ser maltratado.

Esconde a morte o meu vestuário
Colorindo os desenganos.
Ardentes olhos são afinal enganos
Que queimavam o sedentário.

Estive uma década morto
Submerso em azeite quente e pez.
Acordei, avistando num porto
Os teus cândidos e lindos pés.
Agarrei-os derreado e torto.
E por eles imaginei a tua altivez.
E com o peso e o desconforto
Pisaste quem não vês
Que prefere ser um vivo aborto
Do que morto outra vez?...






26-11-2007

NÃO SER NO TEU SER…EXISTO…

Esta noite vou-me confessar…
Sentimentos vão escapar
Como a minha musa a nadar
Longe da confissão que me está a afogar.

Só porque me confessei
A quem quero bem que nunca terei.
Querendo voar, no chão me espalhei,
E sinto que a assustei.

Só porque existo.
Só porque não resisto
A um sentimento talvez imprevisto
Vão me dizer que não posso ser isto?...

Âmago vazio, porque não és misto?
A pura poesia é revolucionária.
A musa aos meus afectos contrária.
Não ser no teu ser…existo…







26-11-2007

ABISMOS DO TEMPO

Em novos tempos
Colhi abismos do tempo.

Parecias em novos tempos
Uma linda novidade
Que eu desconhecia.
Parecia pelo teu interesse
Que te ia amar sem sofrer.
Peguei-te nas brancas mãos
E fechaste os olhos de prazer.
Não te consegui beijar,
Talvez por não te querer usar.
Não se deve colher uma margarida
De uma silveira agreste,
Porque lá será mais querida
E estará mais bem protegida.

Mas tu, margarida,
Soltas-te sozinha
E segura no vento
Apaixonado por ti,
Leva-lo em todas as direcções…
Queres todos os corações.

E voltas sempre, margarida
Para a segurança
Da silveira agreste.



Em novos tempos
Colhi abismos do tempo.




17-11-2007

SAUDAÇÕES AO MAR

Oh, mar renovador!...
Estarás hoje poluído?...
Enxota com as tuas ondas o pútrido
Humano da tua poluição causador.

A tua calma estranha murmura…
A espaços o reflectido ameno céu
Despe sobre ti um sombrio véu
Que cai como a noite mais escura.

Amedrontas o «velho pescador»
Descrito na perfeição da dor.
Vingas-te do povo conquistador
Conquistando terra e impondo cor.

Saúdo-te mar, porém, mais sossegado.
No esplendor da bruma,
Renovando sempre espuma
Como o amante mais desejado.




«O velho e o mar»








14-11-2007

LOUVAR

Na Inca antiguidade
O divino era louvado
Por drogas o ouro mais dourado.
E o homem sentia-se mais perto da divindade.
Sacrifícios humanos por temor
Eram sacrificados de pouca importância.
Observava o voo alto do condor
A carne abandonada com significância.
Depois surgiu o Deus cristão.
Um só Deus como utopia,
Perdoando ao deus pagão
E cultivando a fome e hipocrisia.
Deuses deixaram-se de louvar.
Pratica-se o Sado masoquismo.
Admiram-se com o canibalismo
Como uma religião a despontar…
Louvar e temer é da humanidade próprio.
Charlie Manson ou Jesus Cristo?
Qual o maior criminoso visto?...
Quem ao mundo trouxe o ópio?...
Quem merecia o nariz do Pinóquio?...





11-11-2007

AMOR

Se for amor
Será doença.
Só tenho calor
E a tua descrença

Entrou sem licença?...
Um olhar sedutor
De uma divina flor
Que é hoje mortal indiferença.

Se estou doente
É porque te olhei.
E no tempo parei,
Porque te vi contente.

No deserto da mente
Vive uma serpente
Que ao coração imprudente
Dá uma maçã doente.

Platónico e revoltado
Estou solto da razão.
Sou presa do coração
Que bate incontrolado.







10-11-2007

NÃO VIVO

Estou mais vivo
Por estar a enlouquecer?...
Ou inconsciente sobrevivo,
Se de tudo me esquecer?...


Afrodite, estou a sofrer
Por amar essencial o teu ser.
Estou a morrer por viver
Só, e não amado…não te devia dizer.

O meu peito é o arquivo
De ilusões e males sentidos.
Guardo em mim sentimentos perdidos…
E para o mundo estarei «não vivo».









8-11-2007

AMO-TE…PORÉM, HUMILHADO…

Amo como quem sobeja
E se repete consciente.
Amo quem aparentemente
Me deseja e nunca fraqueja.

O meu peito violentamente arde…
Amante escravizado
Que se tortura até tarde…
Amante que não é amado.
E assim te amo de verdade.

Afrodite morena, por ti
Tão alto me fingi.
Queda dolorosa senti.
O meu orgulho quase perdi,
Por te amar puro e tão doente.
As tuas qualidades não esqueci,
Porque te vi transparente.

Não foram só palavras que me magoaram.
Foi o tom com que se soltaram,
E os gestos que me humilharam.
As prioridades com que me alvejaste.
A altivez com que esmagaste
Segredos que a contar não chegaste.






2-11-2007

FOME

Certa é a paixão
De que tenho fome.
Iguaria é a ilusão
Que me come.

Certa é a fadiga
Do cérebro a pensar,
Porque razão a minha barriga
Está com sinos a ecoar.

Certo é que a distância
Da motorizada que não quer pegar,
Acompanha o meu estômago na ressonância
Querendo me intimidar.

Certo, serena musa
É que te quero devorar.
E do que o mundo usa e abusa
Estou a pensar, mas não lhe quero tocar





6-11-2007
Bocage, Van Gohg, Cervantes, Pessoa, Shakespeare, Mozart, Jim Morrison, Dumas, Bram Stocker, Allan Poe,
Vocês têm visto o sol?...
A arte consome o verdadeiro artista.
Eu vi-te morto.
Segue o teu caminho.
Inventa o dia.

JOVEM VAZIO

Jovem vadio,
Porque não és frio
Sentes o calafrio
De um cerco gentio.

O teu refúgio
Evapora-te do mundo.
Do teu subterfúgio
Vapores saem num verso imundo.

Jovem vadio
A verde idade era tão bela,
E o teu coração disse-lhe adeus.
És adulto meloso e ímpio,
Porque ela faz-te vir…até ela.
Ela é o teu Deus.
E o que lhe fizeste,
E como a adoraste,
E como te evaporaste,
Jovem vazio?...





31-10-2007

DAMA VENAL

Vénus mortal…princesa venal…
Quero os teus favores carnais.
Quero em ti dispersar o mal
Extravagante de amores espirituais.

Quero soltar o meu lado animal
E chicotear escravizados sinais.
Quero ser um amante imortal
E levar-te além de frouxos ais.

Quero que me tires medos
Sem revelares segredos.
Quero acariciar-te com os dedos
E viver linguados enredos.

Sei que só farás por dinheiro
Uma inesquecível festa.
Mas nenhuma amante honesta
Exprime amor verdadeiro
Sem uma ideia desonesta.

Vindo de um erro fatal,
Quero te amar, dama venal.







28-10-2007

SUICIDIO

A minha juventude evaporou-se.
Só agora estou a perceber.
O meu aguardado magoado amor guardou-se
Para de mágoas aos poucos se perder.

O meu amor era obcecado e doente.
Não me amando, amava-te a ti…mais ninguém.
Sonhava-te pura e ausente.
E como dama venal também.

Por mais que a mente distorça
Do peito tamanha amargura,
Não entende a minha loucura
Que não se deve amar com tanta força.




27-10-2007

BELEZA

Oh, meu inimigo sol…
Proferiste o meu caminho escondido
Na noite?...estarei proferido
Por ti debaixo do meu lençol?...

Não quero a tua claridade,
Apolo dos limitados.
Quero de Vénus a proximidade
Com Plutão e os deuses irritados.

Com a chuva e a neblina acasalaste
E assim pariste-me na natureza.
E para haver, enfim beleza,
A bem ou mal tem de existir contraste.





26-10-2007