sexta-feira, 27 de março de 2009

"Um conto poético"

O mundo é uma máquina de poesia.

Mas…
Ó doce musa, a tua face vermelha
Inspira-me de amor, inspira a graça,
Mas o meu rosto transpira desgraça
Por este amor atroz que me embaralha.
Adormeço…
Forasteiro num lugar
Impiedoso e imundo,
Não consigo encontrar
Conforto neste mundo.
Acordo:
Apático no mundo,
Quis compreendê-lo neste dia
Onde tudo era mais frio e esquivo.
Com nada nem ninguém me confundo.
Julguei ser este o dia da negra alegria,
Sentir-me morto estando vivo.
Sentir?...sinto algo….um sentimento tão profundo
Que estaria disposto a tudo
Para concretizá-lo neste bestial instante.
Ah!...fosses submissa e só minha
Já, serias antiga e bela…eu seria mudo,
Falhando naquele momento circunstante.
Passei a manhã incomodado e pensativo
Sem reparar em ninguém,
Apesar de me observar alguém…
Alguém morto e vivo…não vivo.
Alguém incomodado e pensativo,
Temido e escondido apaixonado…mas quem?...
Meio-dia, o sol entre nuvens espessas batalhava,
Procurava esconder-me iluminando.
Um vento forte me guiava,


Por caminhos onde ninguém passava,
O mórbido canto da chuva açoitando
O vento mais forte contrariava,
E cada vez que eu parava
Parecia que congelava.
Podia fugir mas não podia.
Fui com o vento que me seguia
Por pinhais abandonados,
Num triângulo inexplicavelmente conjugados.
Optei pelo do meio de caminho
Lamacento e cansativo, tortuoso.
Passo quilómetros sem sentir…
( muitos outros adivinho ),
Quando ouço um gemido forte e vitorioso,
Pairando neste ambiente de onde não pode partir.
Fugir ou ficar? Estou cansado e sozinho,
Fraco para avançar, fraco para voltar
E ainda mais fraco por esperar…
Olhei para trás e vi o que me tinha cansado:
Imagens distantes aproximavam-se rapidamente.
Loucos formando a sua sociedade.
Um quadro de pessoas vencidas por um louco desfigurado,
Inspira um tímido pintor que se mata de repente.
Imagens de casais abençoados pelo dinheiro,
Tretas de ricos que são a verdade dos pobres.
Todos os que tinham um meio
Se extremaram neste filme de solidão
E choraram ao ver o cinema cheio.



Sou mais indiferente do que me fazem.
Vejo as pinturas do meu pensamento
A sobressaírem na escuridão.


Peço às clarezas do mundo que atrasem
O clarão, inventando tal lamento
Que clarifique um timbre no alçapão,
Por onde caio desenganado…
Tive dores durante tantos dias, que nunca menti.
Passei fome e tormentos lentos…penso que morri…
Acordei numa montanha?
E já irrompe uma voz estranha:


Viver nas trevas…a fatal promessa.
Convivo só…com o meu coração…
Um relógio cimentado no chão
Para que os mortos caminhem depressa.


Na montanha, o castelo desprezado,
Escondendo um tesouro magistral,
Ruiu por ecos frios de um casal
Que de outro casal se havia apartado.


Agora já encontraste a tua estadia,
Um lugar onde não te chamam estranho,
Onde a escuridão é a luz do dia,
Esquecendo o teu tamanho.


8-10-1998

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