sexta-feira, 27 de março de 2009

"PÂNICO E SABEDORIA"

Vinha de uma consulta de psiquiatria em Coimbra apanhar o comboio que finalmente o deixaria no seu refúgio. «Com certeza as carruagens do comboio estarão prestes a parir de tanta gente atolada. Encontrarei raparigas bonitas, mas nenhuma mais bela que ela». Chegou à estação com o comboio prestes a partir e entrou nervoso. Viu que estava rodeado de lindas mulheres que sem pudor o olhavam e homens de mau humor que assim o miravam. O comboio partiu aos solavancos (porque ainda não era dos restaurados) e ele agarrou-se com a mão a um ferro para não cair. Os risos de sedução das mulheres em breve iriam rir-se dele vendo que ele era um fraco. E os homens que pareciam lobisomens iriam salivar vendo tal espectáculo. A mão no ferro já estava a tremer, os olhares eram mais intensos e ele só pensava em sair na primeira estação. Pessoas saíram, mas de outra carruagem para onde ele já não se podia mover. Sentia uma ansiedade tão grande que o coração lhe batia furiosamente e já tremia mais com a mão frenética no ferro. Com olhos esgazeados pensava ver nos outros olhos o roubo da essência do seu ser. De repente o pânico tomou-lhe a mente e o coração e caiu no piso do comboio tremendo com frenesins…As pessoas estavam admiradas, mas calmas por sentirem que tal coisa nunca lhes aconteceria. Passou para ele assim um tempo que parecia infinito, que nunca mais chegaria ao seu destino que agora lhe parecia o fim. Até que de repente se viu sentado num banco e uma senhora mais velha lhe pedindo para pôr a cabeça para baixo com as mãos nela. A senhora idosa cedera-lhe o lugar, amparou-o e tentou acalmá-lo até que finalmente ele chegou ao seu destino. E sem olhar para ninguém levantou-se e pisou solo ainda não estático. Pelo caminho de repente se acalmou e pensou…
Se tão velho sou de porcaria,
Desta senhora a alegria
Não deve ser a causa de tanta sabedoria…


16-1-2008

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