sexta-feira, 27 de março de 2009

Deixa-me gozar um só dia.
Sai de mim triste poesia:




Canta o galo o clarim da retirada,
Toca o peito escuro no rosto pálido,
Cai, nulidade, no soldado inválido.
Reis, escravos, de fronte loureada
Levantam-se ao serviço da alvorada,
Comandados pelo primeiro raio
Solar, triste, como o crepúsculo que apoio.
Como chuva que não resiste à gargalhada,
Cego pelo dia ao som da chuva adormeço…
Quando a memória mostra o que não quero ver,
O sono só concede o anoitecer,
Cor da musa instável que eu amanheço.
Não suporto este Inferno de sonhar contigo,
Cansaço…nem em sonhos encontras abrigo.
Em sonhos bizarros sofro venal castigo.
Caminhas entre nuvens despreocupada,
Sorridente beijando o meu único amigo.
Antecipo o sofrimento, corro perigo
De sonhar eternamente no eminente jazigo,
Mas, de repente, acordo numa mansão destronada.
Clareio a solidão…acendi um cigarro.
Fixo o olhar vicioso na sua ponta,
E olhando duas cinzas vermelhas,
Fito os raivosos olhos do Diabo,
E o meu rosto baço carrega escrito:
Pacto de sangue, poeta maldito.


1997

Sem comentários:

Enviar um comentário