quarta-feira, 3 de março de 2010

O INFERNO DO CIÚME

I

Esse abismo, esse Orco eterno
Não é filho da razão;
Os pavores da ilusão
É que pariram o inferno:
Pelo siso me governo,
Que louco e falso a presume;
Mas, se não creio esse lume,
Nem esse invento maldito
Por experiência acredito
O inferno do ciúme.

II

Em vão pregador rançoso
Lá do púlpito vozeia,
Quando a triste imagem feia
Traça do inferno horroroso:
É sistema fabuloso,
Que à razão embota o gume;
Não, não há tartáreo lume,
Que devore a humanidade:
Sabeis vós o que é verdade?
O inferno do ciúme.




Para mim um dos melhores poemas de Bocage.
Sendo para mim Bocage um dos melhores do mundo.

Julgo por ter lido que até Antero de Quental nalguns sonetos se inspirou em sonetos Bocagianos.

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